sexta-feira, 24 de julho de 2009

Estômago (2007) Dir. Marcos Jorge




ESTÔMAGO
(Um filme sobre poder, sexo e culinária)


Ultimamente, ou seja, certa de alguns anos atrás, comecei a dar uma atenção especial aos filmes nacionais. Claro, isso ocorreu bem antes dessa abertura cultural e lapidação “do que é cinema nacional”; por volta de 1998 e 2000 com a ascensão de filmes como “O bicho de sete cabeças”, “Central do Brasil” e “Carandirú”. Essa minha importância surgiu bem antes dessa nova safra, porém, distante das pornôs-chanchadas (ou xanadas!) que como todo bom brasileiro chegou a pensar a respeito: “Putz, o Brasil só produz putaria”. Que de fato não é uma mentira por completo, mas também não é uma verdade concreta. Meu interesse e patriotismo em relação a pluralidade cultural brasileira surgiu quando percebi que havia mentes que pensavam e questionavam, tanto na literatura, música e principalmente no cinema!


Mas, por favor, sem pseudo-intelectualismo amigos leitores, não sou do tipo de ouvir MPB e falar de política querendo revolucionar o mundo com opiniões expressas na mesa de um bar ou deitado no sofá assistindo um documentário marginal. Não, sou patriota em relação a nossa cultura, pois há muitas mentes brilhantes e percebi que o cinema nacional não se restringe apenas as clássicas pornôs-chanchadas. Tudo começou quando assisti na sala de uma biblioteca municipal o filme "Deus e o Diabo na terra do sol (1964)", direção de Glauber Rocha. Depois conheci o Mojica, mas essa história fica para outro artigo, vamos “dissecar o estômago de Marcos Jorge” o diretor desta obra interessantíssima – Estômago.



Estômago é a clássica história da vida real de um nordestino que acredita que em São Paulo está a grande chance de sua vida. Você pode até pensar: “Pô, novamente a essa idéia batida”. Mas aí que todos escorregam no quiabo! Não é o tema da história que a torna repetitiva, mas sim, como ela é contada. E este filme não é sobre a luta de um nordestino, mas a de um individuo comum que através da arte da culinária encontra seu lugar ao sol. Pois o filme, observando mais atentamente, trata de duas coisas universais para sobrevivência humana: o poder sobre os outros e a comida como fonte de sobrevivência e conquista do poder. Especificamente, a comida como meio de adquirir poder. E pode ser definido como “uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária”.

A fábula acontece quando Raimundo Nonato, interpretado pelo ator baiano João Miguel, chega na grande capital com sua cara de coitado e piedade. Literalmente ao vê-lo em cena temos pena desse pobre homem! Sua primeira oportunidade, se assim posso dizer, é em um boteco imundo com salgados gordurosos e ovos cor-de-rosa. Adentrando neste recinto de prostitutas e moscas, sem um puto no bolso, ele pede um copo de água para disfarçar a fome. O dono do bar, típico sujeito arrogante e mal-encarado, lhe serve uma bela água de torneira. Mas o ponto crucial é quando Nonato, sabendo que não tem aonde cair morto, pede as duas únicas coxinhas semi-mortas a paisana na estufa asquerosa. Sem ter como pagar e diante de um sujeito bravo e mal-encarado, surge uma proposta sem retorno, mas na atual conjuntura dos fatos a única que irá lhe salvar de uma bela surra de porrete.


Em troca de moradia e comida, Nonato presta serviços ao dono do bar e este lhe ensina a arte de fazer os típicos quitutes de boteco. Percebe-se que ele tem uma habilidade natural para a culinária e apesar de sua humilde ignorância, acaba transformando o boteco das moscas e prostitutas em um ambiente constantemente freqüentado devido as suas saborosas coxinhas. Essa reviravolta atrai mais fregueses e conseqüentemente o dono de um restaurante de primeira classe que vê em Raimundo Nonato um diamante a ser lapidado.




O filme caminha com duas histórias inteligentíssimas, essa pequena introdução da primeira história que acabei de narrar, caminhando em paralelo com a vida de Nonato dentro da prisão. Como ele chegou lá? Eis o segredo do filme! Pois o ponto culminante é justamente aonde as duas histórias se cruzam, tornando a conclusão dos fatos em uma surpresa sagaz e inesperada. Na cadeia o ele se apresenta como “Nonato Canivete”, porém, “Alecrim” acaba sendo seu apelido de xadrez devido a sua habilidade de transformar restos indigestos em algo comestível. Essa “mágica” lhe rende prestigio e confiança dentro da sociedade carcerária, sendo braço direito do chefe diante dos assuntos de confiança da cela em que reside. Aos poucos Nonato vai conquistando seu espaço, cativando através do estômago, detendo um poder singular e sendo respeitado. Mas é no desenrolar paralelo das duas histórias que o telespectador entenderá por que esse filme tem o título de estômago. Um filme que você começa assistir e não consegue parar.


INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O FILME


O filme marca a estréia de Marcos Jorge na direção de longas-metragens, depois de uma bem-sucedida carreira como diretor de curtas-metragens, filmes publicitários e artista-plástico especializado em vídeo-instalações. Marcos Jorge estudou cinema na Itália e lá viveu durante toda a década de 90, e seus filmes e vídeos venceram mais de 50 prêmios nacionais e internacionais.


As filmagens aconteceram durante 5 semanas em Curitiba e São Paulo, em fins de 2006, e toda a finalização foi feita na Itália, em Milão e Roma, em meados de 2007. ESTÔMAGO é a primeira co-produção cinematográfica realizada a partir do acordo de co-produção bilateral Brasil-Itália, assinado no início dos anos 1970. É um filme de dupla nacionalidade, brasileiro para o Brasil e italiano para a Itália.


O filme foi inspirado no conto “Presos pelo Estômago”, de Lusa Silvestre, que assina, junto com Marcos Jorge, o argumento do filme. O roteiro é de Lusa Silvestre, Marcos Jorge, Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito. A produção é de Cláudia da Natividade, Fabrizio Donvito e Marco Cohen. O diretor de fotografia é Toca Seabra, que tem no currículo filmes como “O Invasor” (2002), “Do Outro Lado da Rua” (2004), “Cidade Baixa” (2005) e “Cão se Dono” (2007). A música ficou a cargo de Giovanni Venosta, compositor de premiadas trilhas sonoras de vários filmes italianos: “Pão e Tulipas” (2000), “Queimando ao vento” (2002) e “Ágata e a tempestade” (2004).


Como grande parte da história se passa dentro de uma cela de cadeia, Luiz Mendes Jr. - que entrou na prisão aos 19 anos, semi-analfabeto, e saiu 30 anos depois, como escritor e cronista - atuou como consultor de vida e comportamento no presídio.


ESTÔMAGO foi vencedor do Prêmio de Produção de Filmes de Baixo Orçamento do MINC e seu roteiro participou do prestigioso seminário de co-produção internacional "Produire au Sud", financiado pelo governo francês.

FICHA TÉCNICA

Direção: Marcos Jorge
Gênero: Drama
Áudio: Português
Tamanho: 695 Mb
Duração: 113 Minutos
Trailer - Assista

DOWNLOAD
Arquivo torrent atualizado 05/06/2016