quinta-feira, 7 de junho de 2012

MALÉFIQUE (2002) Dir. Eric Valette



Vive le béret horreur!

O cinema americano tem muitas coisas memoráveis e válidas, mas convenhamos, nos últimos dez anos é muito raro a indústria Hollywoodiana arredar o pé dos clichês cheios de histórias pré cozidas e sustos manjados. Principalmente quando o tema é suspense ou horror. Ainda mais com a onda do cinema 3D, artimanha inventada nos anos 80, ressuscitada para trazer novamente o grande público as salas de exibição. Infelizmente, de certa forma, o publico em geral já está acostumado com esse formato “customizado” de contar estórias. Que a meu ver, 3D ou remake, é mais uma fórmula para vender aquilo que já foi inventado. No entanto ainda não inventaram nenhuma artimanha visual mais impactante que um bom roteiro e uma história criativa, mesmo que esta seja muito surreal, mas que lhe impressione pelo fato de nunca ter imaginado uma narrativa feita de igual forma, tão incomum e surpreendente. Eis aqui a beleza do cinema francês!

O LADO B DO CINEMA FRANCÊS

A nova safra de diretores vem redesenhando o cenário francês do cinema underground que podemos definir como “O novo cinema extremista”. Como é o caso do diretor Pascal Laugier com seu magnífico “Martyrs (2008)” [já postei artigo aqui, – LEIA] e “House Of Voices (2004)”. Na mesma safra vêm outras magníficas obras que desejo brevemente semear por essas paragens, como o sádico "Frontière's (2007)" do diretor Xavier Gens e o sufocante "À l'intérieur (2007)" da dupla de cineastas Alexandre Bustillo e Julien Maury. A dupla lançou recentemente um interessante trabalho, “Livide (2011)”, assisti há algumas semanas atrás e posso dizer que é uma narrativa  incomum sobre o goticismo e vampirismo, algo que está  na contra-mão do convencional já difamado e deformado por títulos como Crepúsculo e sua linhagem vergonhosa a Bram Stoker.   

LIVIDE (2011)

Confesso que a principio foi difícil ter contato com esse lado mais underground do cinema francês, principalmente tendo como referente à elite dos diretores como Jean-Jacques Annaud, Julian Duvivier, Francois Truffaut, Jean-Luc Godard e muitos outros.  Todos indiscutivelmente excelentes. Porém, a meu ver, talvez um olhar mais bruto sobre os fatos, tais diretores estão para o cinema francês como a bossa nova e Tom Jobim está como referência ao Brasil. É difícil ter acesso ao cinema underground europeu da mesma forma que é complicado ter acesso aos filmes de diretores nacionais independentes como o paulista Kapel Furman ou o catarinense Petter Baiestorf. Mas vale apena!

 O cinema francês está no seu auge, porém, vale ter contato com títulos de época mais longínquas do horror de boina como O inquilino (Le locataire, 1976), Olhos sem rosto (Les yeux sans visage, 1959), As diabólicas (Les diaboliques, 1955) e A mão do diabo (La main du diable, 1943) clássicos indiscutíveis do terror europeu.


MALÉFIQUE – O QUE HÁ A ESPREITA NAS PÁGINAS DE UM LIVRO?


O filme narra à história de Carrère (Gérald Laroche), um gestor de empresas acusado de fraude. Um homem comum como qualquer outro, com uma jovem esposa e filho, típico sujeito usual da sociedade contemporânea. Alguém que possivelmente não tem sangues em suas mãos, mas vê na acessibilidade do poder o degrau para a aquisição do dinheiro e  conseqüentemente a conquista do conforto, seu objetivo maior. Por essa razão, conseguir grandes quantias de dinheiro em pouco tempo, Carrère se vê encarcerado. 

Sua felicidade, aparentemente é a família, seu trunfo, uma equipe de advogados e o dinheiro da fiança que sua esposa providenciará em quinze dias. Enquanto aguarda tal montante o empresário é transferido para uma cela com três sujeitos peculiares. Marcus (Clovis Cornillac), um transexual de 35 anos no processo de transformação e aceitação. Pâquerette (Dimitri Rataud), um deficiente mental de 20 anos, viciado em pornografia e com um terrível hábito de comer qualquer coisa que possa engolir. E por fim, o silencioso Lassalle (Philippe Laudenbach), um intelectual de 60 anos que matou a esposa de forma misteriosa. Entre ratos, ruídos e baratas os quatros compartilham suas diferenças a espera do amanhã que nunca chega, orando de olhos aberto na escuridão, aguardando a esperança seca e amarga que falece a cada esmorecer da alvorada.


Certa noite, entre o frio e imaginações espectrais, Carrère percebe algo incomum próximo as suas acomodações. Na cela, por trás de uma laje misteriosamente solta, ele descobre a existência de um empoeirado livro. Amarelado, sujo e com algumas páginas manchadas com sangue o achado teve um dono, Charles Danvers (Geoffrey Carey), prisioneiro que ocupou a mesma cela no início do século.  Ao ler aquelas folhas carcomidas pelo tempo, Carrére percebe a estranheza do que tem em mãos, um diário obscuro da vida e dos feitos dantescos do confidente prisioneiro, tudo registrado em idiomas diversos e línguas ilegíveis.

Ao debruçar em tais leituras a vida de Charles Danvers se revelou pavorosa. Danvers era um louco obcecado pela imortalidade corpórea, razão impar que o levou a prisão. Mas o que poderia ser um simples diário, se apresentou como uma porta para o lado negro do ocultismo. Charles Danvers havia composto um livro com simbolismos cabalísticos e encantamentos em línguas mortas que, de acordo com o próprio relato, lhe trouxe a liberdade das paredes que o aprisionava. Porém com o caminhar da estória o simples fato da descoberta do livro produziu fenômenos estranhos e perturbadores na cela.


A grande sacada de filmes como “Maléfique” não é o susto programado ou o horror gratuitamente explícito. Tudo está contigo no enredo e na forma sutil ou grotesca como os roteiros dizem certas coisas, saindo do usual e carregando cada vez mais o telespectador para a profundeza de sua estória.

Já o livro de Charles Danvers leva Carrère e seus estranhos companheiros a uma busca por liberdade. Carrère ainda mais, por razões que você irá descobrir amigo leitor. Por fim, Danvers encontrou na magia negra o sabor de suas próprias ambições. De certa forma o livro não passa de um reflexo da vaidade humana, não salva a alma, mas a torna escrava de suas próprias ilusões. O filme em si é uma mistura do proibido Necronomicon, livro imaginário do escritor H.P Lovecraft com o horror surreal de Clive Barker. Se ainda não é suficiente, anote o que vou dizer: A cena da transformação em feto é uma das melhores!

Bon Film !


FICHA TÉCNICA

Direção: Eric Valette
Roteiro: Alexandre Charlot (enredo), Franck Magnier (enredo), François Cognard (ideia)
Gênero: Fantasia/Terror
Origem: França
Idioma: Francês

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