quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Man on the Moon (1999) Dir. Milos Forman



Um filme dirigido por Milos Forman

Posso estar sendo um pouco presunçoso ao afirmar, mas considero “Man on the Moon”, título nacional “O Mundo de Andy”, um dos maiores filmes de Milos Forman. É difícil fazer tal afirmação trazendo a mente clássicos indiscutíveis de sua carreira como “Um Estranho no Ninho (1975)”, “Ragtime (1981)”, “Amadeus (1984)”, “O Povo Contra Larry Flint (1996)” [veja aqui] e “Sombras de Goya (2006)”. Mas é interessante perceber como Forman é atraído por reproduzir a vida de pessoas com genialidade, loucura e criatividade incomum. Talvez, incorporar todas essas vidas lhe traga uma sensação de liberdade. Afinal o homem nasceu na Checoslováquia, viveu sob o nazismo e o comunismo. Conheceu todas as formas de autoritarismo e totalitarismo. Nunca foi um conformista, mas em entrevista revelou que se considera um covarde por nunca ter tido coragem de fazer coisas ultrajantes como Larry Flynt, o pornográfico que criou a revista masculina "Hustler" e Andy Kaufman a figura central do filme que apresento.

Mas garanto a vocês amigos (as) leitores(ras), Milos Forman tem uma característica única ao dirigir filmes baseados em fatos reais. Quando assisti “O Mundo de Andy” achei tão presunçosa a existência de um Andy Kaufman devido à fantástica apresentação do ator Jim Carrey diante da insanidade do personagem apresentado que logo me conduzi a pesquisar. E para minha surpresa Kaufman foi uma das figuras mais fantásticas, non-sense e indecifráveis do meio humorístico. Carrey fez uma atuação tão dramática, fantástica, digna ser comparada a dramaticidade de “O Show de Truman (1998)” e “Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças (2004)”, filmes que realmente apresentaram as qualidades dramáticas de Carrey, além do humorista “paspalhão”. Realmente fiquei impressionado com a fidelidade dos traços comparados ao verdadeiro Andy Kaufman. Porém nada disso seria possível sem a genialidade na direção perceptiva de Milos Forman que soube coordenar, soube conduzir precisamente as pesquisas sobre a vida de Kaufman e transformou “O Mundo de Andy” é um filme divertido e ao mesmo tempo dramático, prazeroso de assistir, fugindo completamente da estética enfadonha dos filmes que tendem a ser biográficos. 



O que tornam os filmes de Milos Forman interessantes são as leituras contidas em cada obra. Em “Um Estranho no Ninho (1985)” Forman usa loucos para discutir o próprio conceito de sanidade do sistema. “Ragtime (1981)” é considera a maior crítica ao racismo contra o negro de toda a história de Hollywood. Em “O Povo Contra Larry Flint (1996)” Milos finge que vai falar de pornografia, atiçando o público, mas na verdade o que é discutido é a hipocrisia que existe por trás da idéia de liberdade de imprensa. Em “O Mundo de Andy”, a história de um palhaço que deseja ser reconhecido como ator, não é diferente. Quando os créditos subirem você perceberá que além de uma história inusitada há uma crítica ácida a fábrica de sonhos que a América (Hollywood) afirma ser. A verdade por trás dos shows Business ocultas na prostituição da arte e do artista.


ANDY KAUFMAN


Interpretado por Jim Carrey, Andy Kaufman era uma figura atípica, indecifrável e totalmente imprevisível. Kaufman não se considerava humorista, pois todas as suas intenções eram mais dramáticas e performáticas, mas raramente ele era levado a sério em suas intenções artísticas. Por natureza, devido a sua liberdade criativa, odiava regras e a idéia de “dar ao público aquilo que o público deseja” era algo muito submissivo. Acreditava que qualquer manifestação artística sobrepujava o humor barato das risadas enlatadas como os Sitcom’s ou piadas apelativas. Kaufman era um dos poucos humoristas que tinha consciência que a liberdade criativa morria quando as grandes produtoras detinham a posse de seus ideais, transformando qualquer performance em um produto a venda. Sua grande diversão não era simplesmente divertir o público, mais sim, provocá-los constantemente, deixá-los a deriva da imaginação, fazê-los refletir sobre tudo o que acontecia diante de seus olhos. Se tudo não passava de atuação e que parte de toda aquela loucura era realmente Andy Kaufman. Quando Andy tinha todos na mão, puxava o tapete. O inesperado era o seu maior prazer.



Andy Kaufman ficou conhecido através do seriado Táxi, interpretando o estrangeiro Latka Gravas. O humorista quebrou todas as estruturas da comédia convencional, apresentando números vanguardistas no teatro e em eventos públicos diversos. Latka era um de seus personagens, dentre muitos, que de tão fiéis se confundia com a personalidade real do ator, porém, ao mesmo tempo, não era nenhum, nem outro. 

Kaufman odiava Sitcom’s (abreviatura da expressão inglesa situation comedy, "comédia de situação", numa tradução livre). Sitcom’s são risadas enlatadas de gente morta, dizia. Só aceitou participar do seriado pois seu empresário George Shapiro, insistiu muito, sua aparição na TV seria um grande passo para os seus projetos mais ambiciosos. Kaufman só aceitaria o papel se algumas exigências pessoais (leia-se excêntricas) fossem aceitas. Uma delas era a presença do cantor Tony Clifton. O que muitos não sabiam que Tony era um personagem fictício de Andy Kaufman em parceria com seu amigo Bob Zmuda. A trama foi tão bem costurada que a BBC contratou Tony Clifton para o seriado. Tony Clifton é uma personificação encrenqueira e arrogante Kaufman, repleta de humor ácido que só poderia ser compreendido após muita repetição e observação.


Andy começou a realizar piadas herméticas para se relacionar com o público. Muitas vezes, irritava seus espectadores com pegadinhas, além de inventar falsas histórias para a imprensa americana. Na verdade suas intenções estavam sempre a dois passos à frente do que todos imaginavam. As brincadeiras do humorista era uma espécie de experiência para ciência do comportamento humano, dizia. Desafiar o público além do óbvio era sua obsessão particular. Seu humor ácido, satírico, non-sense e algumas vezes ofensivos era perceptível a uma pequena porcentagem do público que não entendiam quem ele era, mas via algum propósito em toda aquela insanidade destrutiva.  


O humorista ao longo dos anos ganhou alguns inimigos. Mas seus números irreverentes e criativos o tornaram célebre nos Estados Unidos. Fez sucesso no programa Saturday Night Live e ganhou a admiração de críticos e artistas diversos com suas performances. Sua notoriedade absoluta foi conquistada ao interpretar Elvis Presley e zombar de outras personalidades. O grande mistério de Andy Kaufman era a veracidade dos personagens criava, muitos escondiam a sua verdadeira identidade, como o cantor Tony Clifton. Após a sua morte em 1984 devido a uma espécie raro de câncer, muitos acreditaram que Kaufman ainda estava vivo, muitos foram ao velório acreditando ser mais uma peça do humorista, principalmente sabendo que Tony Clifton se apresentava em várias casas noturnas pelos EUA.


O FILME


Como disse anteriormente, o filme é fantástico. Apesar de ser biográfico não carrega essa carga cansativa que alguns filmes do gênero apresentam. Ao contrário, o filme é divertidíssimo! Jim Carrey nos faz rir a todo o momento, ele realmente encarnou com uma fidelidade incomensurável todos os trejeitos, tom de voz, movimento das mãos e dos olhos que corresponde à presença física de Andy Kaufman. Digo mais, este papel não seria tão digno nas mãos de outro ator. Jim Carrey, assim como Kaufman, são palhaços que gostariam de ser reconhecidos como atores dramáticos. Esse é o fio de semelhança que os uniu e que trouxe Kaufman a vida na performance de Carrey.



Nos minutos finais o filme nos leva a parte mais dramática, momento que Andy é diagnosticando com câncer. No entanto, todo filme o diretor Milos Forman faz questão de brincar conosco, brincar ao estilo Kaufman, pois há sempre aquela conotação de sarcasmo e surpresa. Não sabemos até que ponto devemos levar a sério o que estamos assistindo. Por essa razão não fui tão detalhista em relatar a biografia de Andy Kaufman, muitas coisas serão apresentadas de forma única no filme.


Mas se você já conhece Kaufman o filme será apenas uma constatação. Se não conhece, assista e após os créditos finais, vá no youtube e digite “Andy Kaufman becomes Elvis" e “Andy Kaufman on Letterman (June 24th 1980)”. Surpreenda-se! Mas faça isso somente após assistir ao filme!


O Mundo de Andy conta com um grande time de atores. O citado Jim Carrey interpretando Kaufman, Danny DeVito interpretando o seu empresário George Shapiro, a impagável presença de Paul Giamatti interpretando o amigo de armações de Kaufman, Bob Zmuda. E o próprio Bob Zmuda interpretando um dos produtores da BBC que sempre caiam nas armações da dupla. E Courtney Love, mais uma vez trabalhando com Milos Forman, interpretando a esposa do notório humorista, senhorita Lynne Marguiles.



FICHA TÉCNICA


Direção: Milos Forman
Título Original: Man on the Moon
Título de Divulgação no Brasil: O Mundo de Andy
Gênero: Comédia, Drama, Biografia
Origem: EUA
Ano: 1999
Atores principais: Jim Carrey, Danny DeVito, Vincent Schiavelli, Paul Giamatti, Courtney Love
Minha nota: 9,0/10,0 

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Das Experiment (2001) Dir. Oliver Hirschbiegel



 Das Experiment

“Dê poder a uma pessoa e saberá quem realmente é”

Não me recordo exatamente qual o filosófico que disse tal frase, mas sempre a usei como exercício de reflexão para imaginar o potencial soturno da natureza humana. “Das Experiment” (Na versão brasileira “A Experiência”), dirigido Oliver Hirschbiegel, é um filme alemão que nos coloca diretamente com essa reflexão. O filme é baseado no romance de Mario Giordano que descreve certas experiências governamentais testada em civis para descobrir a origem da maldade humana.

SINOPSE 

O filme narra à socialização de 20 desconhecidos que tem seus destinos traçados após aceitarem comparecer a um experimento que renderá a cada candidato uma quantia voluptuosa em dinheiro. O experimento consiste em separar os voluntários em dois grupos, guardas e prisioneiros. Ambos os grupos terão que conviver em uma prisão controlada por câmeras de monitoramento durante 14 dias. Os candidatos são informados que durante todo o período do confinamento eles passaram por altos níveis de stress. Porém deveram seguir algumas regras básicas para receberem a recompensa. A principal regra que deve ser seguida, cabível a expulsão é: Qualquer conflito que possa surgir deve ser solucionado sem o uso da violência. Mas alguns pontos da experiência saem do controle.



O filme tem alguns furos de roteiro que são incoerentes com a realidade. Mas são detalhes que não interferem no andamento da ficção. Tecnicamente, um ponto forte do filme é a trilha sonora que realmente dá um ótimo ritmo a história. Principalmente quando os personagens começam a entrar em neurose, questionando os parâmetros entre realidade e ilusão. Com o passar dos dias a atmosfera de humor de ambos os grupos se altera, alguns perdem até a noção de sua identidade se deixando influenciar pelos personagens que foram ordenados a atuar durante o período de confinamento.  O que seria uma brincadeira de “bandido” (voluntários vestidos de detentos) e “mocinho” (voluntários vestidos de guardas), inverte-se, cada qual, principalmente os “guardas”, vestem de fato suas identidades fictícias. O que vemos em seguida são retrato de fatos que podemos encontrar em qualquer delegacia ou presídio de qualquer país. 

Apesar dos detalhes técnicos, garanto a vocês amigos leitores, o filme vale seus minutos. Percebemos que o homem não é bom e nem mal, apenas reflexo do meio em que vive e suas privações. Assim como qualquer outro animal. 

O EFEITO LÚCIFER E A ORIGEM DA MALDADE HUMANA.


A inspiração para o livro de Mario Giordano são as teorias sobre a condição humana, descritas por Philip Zimbardo, professor da Universidade de Stanford.  O cientista ganhou o premio Nobel de psicologia após desenvolver uma série de estudos ao longo dos anos sobre a origem da maldade humana. Em 2007 lançou o livro “O Efeito Lúcifer: Entendendo como pessoas boas se tornam diabólicas” (The Luficer Effect: Understanding How Good People Turn Evil), teorias baseadas em observações de fatos reais como as torturas e sadismo do exército americanos aos presos em Abu Ghraib no Iraque



Porém seus primeiros testes se iniciaram bem antes dos fatos ocorridos no Iraque. Os verdadeiros testes que levariam a iniciar a teorização sobre a origem da maldade humana ocorreram em 14 de agosto de 1971. Ele reuniu 24 homens que seriam remunerados para passar duas semanas nesse experimento, que consistia dividi-los em dois grupos, assim como no filme. O primeiro grupo seria aprisionado em uma cela improvisada e teriam seus direitos cassados, tal como prisioneiros comuns. Já o segundo grupo teria a responsabilidade de manter a ordem e o funcionamento da prisão, tendo liberdade em suas ações, com a única condição de que não poderiam utilizar a violência física. A experiência só durou seis dias.

A conclusão do experimento como programado “não deu certo”, pois os “guardas” ao usufruir do poder adquirido, passaram a praticar sessões de humilhação e tortura, deixando os “prisioneiros” mentalmente abalados. As torturas se resumiam a prática de exercícios repetitivos, a restrição da evacuação de suas necessidades fisiológicas, inclusive a proibição de esvaziar suas latrinas e demais atos que exploram o constrangimento e a condição de bem-estar.



Segundo Zimbardo, tais manifestações correspondem a 7 etapas que justificam tal maldade, dentre elas: a desumanização do outro; a difusão da responsabilidade pessoal (ao agir em grupo, se divide a culpa); a obediência cega à autoridade (se cumpre as ordens, sem questionamento); e a tolerância passiva à maldade através da inatividade ou indiferença.

Se você também se interessou pelo assunto e os resultados da pesquisa do psicólogo Philip Zimbardo, eis mais informações detalhadas nesse link [AQUI]. Há uma série de detalhamento sobre o tema proposto por Zimbardo, inclusive uma palestra legendado em português que esclarece com todos os detalhes o que consiste o “efeito Lúcifer”, conforme os estudos do psicólogo.

FICHA TÉCNICA

Direção:Oliver Hirschbiegel
Gênero: Suspense, Drama
Idioma: Alemão
Origem:Germany
Ano:2001
Atores:Moritz Bleibtreu, Andrea Sawatzki, Christian Berkel, Justus von Dohnanyi
Nota: 7,0/10,0

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