domingo, 6 de junho de 2010

Religulous (2008) Dir. Larry Charles





Há verdade absoluta?
Ceticismo, religião e poder


A pergunta que abre este artigo é base para toda reflexão proposta no documentário “Religulous – Que o céu nos ajude” dirigido por Larry Charles (responsável pelo filme ‘Borat’) com argumentação do humorista Bill Maher; um documentário polêmico as artérias frágeis de sensibilidade, razão e lógica. Digo isso, pois ainda me recordo de tempos passados. Alguns anos atrás, quando ao expor posições contrárias às posturas religiosas, sempre havia aquele sujeito, sem muita alegação sobre sua própria doutrina, que dizia, quando não lhe restava mais nenhuma delação contrária: “Religião, futebol e política não se discutem”. Considero tal frase um chavão muito desgastado, repetido por aqueles que não têm evidências cabíveis sobre aquilo que crê. Tendo apenas como “verdade” conceitos fractais um tanto nebulosos que não passam de uma mera crença fantasiosa, sem vestígio de consciência sobre os impactos reais de sua doutrina no meio social. Parafraseando Carl Sagan: “Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” Mas pensando bem, ainda “fico feliz por tal frase”, daquele sujeito sem consciência, pois se eu vivesse na Idade Média, minhas opiniões contrárias ao sistema religioso teriam seu fim na fogueira.

Porém a resposta para pergunta inicial é simples – não existe verdade absoluta. E ao contrário do que todos possam imaginar o ceticismo não é a plena ausência do “crer em algo”, mas sim, a constante busca por respostas cabíveis sobre si mesmo (o indivíduo), o meio em que vive e suas causas (o universo). Ao contrário das religiões ,que respondem todas as questões, sejam elas passadas ou futuras, com as mesmas afirmações que não se sustentam expostas a realidade.

Ser cético permite aquele que questiona a constante lapidação do foco que lhe expõem a verdade. E isso acontece com a evolução da consciência humana sobre si mesmo e sobre o meio em que vive. No entanto, muitos podem dizer que a causa da destruição humana está diretamente ligada progresso cético da ciência em relação às teorias divinas. Tal afirmação é um embuste.  O Homem é a causa de sua própria destruição. Na verdade, um tipo singular Homem. O Homem que utiliza os benefícios do fogo para forjar uma espada ou o conhecimento atômico para construir uma bomba, simplesmente para afirmar seu poder territorial diante de outras tribos da mesma espécie.


No entanto, não podemos deixar de falar em poder e ganância sem mencionar a religião. Afinal ela base da maioria das ações históricas que constituem o caos em nossa sociedade. A fé ao invés de unir, divide. Pois de fato a única coisa que leva os seres humanos a cooperar uns com os outros de modo compreendido é nossa consciência perante um bem-comum, mesmo diante hábitos variados. A suposta fé em uma determinada doutrina religiosa interdita o dialogo, faz com que as crenças de uma pessoa se tornem impermeáveis a novos argumentos. A fé no plano pessoal: “auto-afirmação e estima das qualidades para superação de obstáculos pessoais” é algo benigno. Porém, isso não funciona no plano coletivo, quando se trata de governos capazes de fazer guerra ou desenvolver políticas publicas. Nesse prisma a fé se torna um desastre absoluto. E são esses Homens que utilizam o conhecimento da ciência, tão repudiada pela religião, para criar seus pilares de imposição.


Não desejo aqui fazer uma alusão a injustiça natural ou social, mas sim ao fato de que nada diferencia um homem do outro quanto às respectivas crenças. Basta pensar que, se o cristão é composto de um corpo e alma, o hebreu, ao invés, dispõe de carne e três almas; o animista pode possuir até trinta, o hinduísta nenhuma. Cada parte do mundo, portanto, diversifica-se segundo as características dos que a habitam. Porém, nem todos têm essa consciência sobre suas crendices em relação à outra. Se a religião, de certa forma, exercesse uma base reflexiva, elevando o espírito humano ao mais alto nível de nobreza perante uma consciência coletiva, o mundo estaria em um nível de caos inferior ao que nos encontramos. Mas tal conceito é tão utópico quanto é lúdica a idéia de uma cobra falante  “dedurar” você para um cara barbudo por ter mordido uma maçã em uma árvore proibida.

Isso não lhe parece ridículo e inconcebível de se equiparar as condições reais sobre as equações existenciais que o Ser Humano deve desvelar? A bíblia, assim como qualquer outro livro religioso, não é um manual sobre a verdade ou a ciência. Mas um livro mitológico cheio de parábolas, analogias e simbolismos. Leia-o com o mesmo vigor que leria um livro sobre a mitologia grega, apreciando as estórias fantásticas de seus deuses, admirando a maravilha imaginativa que é a mente humana. 



No que você crê?
A beleza da razão constitui um olhar mais apurado perante a vida


Como eu disse anteriormente, ser cético não significa não crer em nada. Mas sim, buscar cada vez mais e nunca se acomodar com as respostas que lhe é visível. Significa explorar a vida em sua essência mais ampla. Significa ver beleza no vislumbre da compreensão das cadeias moleculares, vagando pela complexidade do cosmo até chegar à pluralidade que compõem a criatividade humana nas artes e diversas expressões. O ceticismo me impede de crer em fatos lúdicos ou mágicos, porém isso não me torna frio perante a natureza humana ou a vida. Questionar é preciso. Somente a busca pela precisão dos fatos nos traz a clareza de quem somos; a compreensão da importância da vida, como tudo se constituiu e intrinsecamente está ligado. O ceticismo em definição pode até ser nomeado como descrença, porém a minha descrença é apenas uma negação a qualquer pensamento que aprisione o indíviduo ao grau mais elevado de degradação. Causando a destruição da vida, si mesmo e seu semelhante. Acredito que qualquer doutrina, dogma ou ideologia que promova o poder em nome de um perante a exploração de milhares, não é uma causa que constitua a salvação do indíviduo.

Compreendo a necessidade humana de classificar o indivíduo para “compreende-lo”, de certa forma. Mas deixo aqui a interessante entrevista com Dráuzio Varella no ano de 1998 que expressa alguns pontos interessantes, opiniões que compartilho.





O Documentário
Religulous - Que o Céu nos Ajude

Religulous (religião + ridículo) escrito e protagonizado pelo ativista, político, comediante e crítico de religiões Bill Maher, dirigido por Larry Charles ("Borat"), tem como objetivo apontar uma série de lacunas existentes nas religiões O filme conta com várias entrevistas tendo em vista mostrar o quanto as crenças são insustentáveis e o quanto os ditos “religiosos” apenas seguem os seus líderes.

De fato Bill Maher não é Michael Moore, mas fica claro que o seu percurso tem como objetivo principal mostrar, e mais do que mostrar, ridicularizar, alguns aspectos extremistas e equivocados das diferentes práticas religiosas. Por isso, em “Religulous”, o propósito interessante do tema acaba por se espraiar numa espécie de extensão das tiradas cômicas do seu protagonista usando como material o fácil alvo das religiões, fenômenos e crenças já de si em crise.


Portanto, devemos ver o documentário como uma extensão de um espetáculo de stand up comedy, rir das investidas de Bill tirando partido dos “personagens” mais obtusos e desmiolados, pois se observarmos desse prisma a obra funciona. O documentário não deve ser visto como um manual prático para “transformar um religioso em ateu”. Não são eles o publico alvo, mas sim, as pessoas conscientes de todos esses pequenos detalhes, que apenas desejam rir de toda essa situação frustrante. 

O objetivo de Larry Charles é ridicularizar o fanatismo em si e a incoerência de sua extensão. Bem menos prolixa do que minhas conclusões e visões sobre o ceticismo, “Religulous” não dá aula de antropologia, mas faz rir e pensar sobre os absurdos das fábulas religiosas. Recomendado para sua tia de bigode.


TRAILER

FICHA TÉCNICA
País de origem:EUA
Ano de lançamento:2008
Duração:101min
Idioma:Inglês
Direção:Larry Charles
Roteiro:Bill Maher
Gênero:Documentário

DADOS DO ARQUIVO

Torrent + Legenda em Português (RQCNA.rar)
Tamanho: 700 Mb
Qualidade: DVDRip
 

8 comentários:

Rafaela . disse...

Esse documentário é bem interessante e divertidíssimo pq as tiradas do Bill Maher são provenientes de questionamentos que ele mesmo tem, e o mais hilário pra não dizer patético são as respostas infundadas ou às vezes, o silêncio dos grandes líderes, que mesmo acreditando ter a verdade absoluta, se perdem dentro dela. O que faz alguns pensarem que uma simples chuva pode ser um milagre ou prova de algo. A melhor frase do documentário que melhor o sintetiza: “A religião é perigosa porque permite aos seres humanos, que não têm todas as respostas, acreditar que eles as têm”

Rafaela . disse...

Muito bom! Bjs =]

Jeffao Monteiro disse...

Baixandooooooooooo !!!!!!!!!!!!

Daiane Raimann disse...

Muito interessante suas ideias e indagações. Adicionaria ainda, evocando os poderes do Super Marx, a expressão “a religião é o ópio do povo”. É incrível como algo, que em sua essência pretende ser libertadora, consegue “cegar” as pessoas, a ponto de fundamentar a violência, de disseminar o medo, de limitar as perspectivas. Se crê sem o questionamento, as verdades absolutas tratam de nortear uma mente sedenta por vias que a razão por si só não dá conta (e nem faz muita questão disso). Se refletíssemos e permitíssemos que nossa fraca razão humana fosse “afetada” pelo mundo, nossa indignação não nos permitiria a “explicação” baseada nas metáforas, cerceando nossa vida, ou no mínimo, ela nos seria muito pouco....mas isso, isso é só a minha verdade, utópica e cansada de “ser humana”. Quanto ao documentário....diria que muito me interessa e não tenho bigode. Verei. Obrigada!

Daiane Raimann disse...

A propósito, procura uns vídeos de Leandro Karnal, um historiador (claro!!) que trata da questão religiosa para o homem de forma inteligente e engraçada. É um café filosófico, o senhor youtube tem!

Unknown disse...

Prá mim, qualquer tipo de religião já é uma comédia. Quando desmascaradas por quem entende do assunto vira uma comédia maior ainda. Excelente documentário esse que já assisti umas três vezes e vou assistir muitas vezes mais.

Rafael disse...

Obrigado! Por esse e pelo do George Carlin. É sempre bom assistir a algo inteligente e engraçado, para limpar a cabeça do tanto de bobagem que a gente absorve todo dia. Parabéns pelo blog!

DOMENIUM disse...

Para Rafael Baêta

Obrigado pelo comentário Rafael. Volte sempre ao imemorável.