Cine B





QUAL A PROPOSTA DO CINE B? 

Com o tempo se criou-se a ideia de que todos os filmes vagabundos, com efeitos toscos eram filmes B. O que não condiz muito com a verdade dos fatos. Minha paixão pelos filmes undergrounds, independentes, boca de lixo, marginais e demais outras termologias para tais filmes que fogem do senso comum da sétima arte, fizeram-me, com o passar do tempo ter um apreço maior por suas características subversivas e seus subgêneros. Não sou um especialista, nem um crítico laureado, mas sou um amante dessa arte “suja” que com o tempo aprendeu a identificar a beleza de certos estilos e gêneros. É justamente essa segunda perspectiva que irei partilhar com você nesta seleção de filmes.

UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE O CINEMA MARGINAL

Originalmente os filmes B eram produzidos pelos grandes estúdios entre as décadas de 30 e 40. Eles dividiam suas produções em duas unidades, A e B. Na unidade A produzia apenas os filmes de destaque, ou seja, aqueles que brilhavam os maiores astros. As fitas que saíam da unidade B dos grandes estúdios não tinham estrelas, embora nem sempre o orçamento fosse baixo. Essa dupla produção começou durante a crise econômica americana provocada pela queda da Bolsa de Nova York, em 1929. Como os cinemas perdiam espectadores, surgiu a ideia de atrair o público exibindo dois filmes pelo preço de um. Geralmente as exibições eram filmes do gênero faroeste, gangster ou horror.

A fórmula dois por um fez tanto sucesso que em 1935, 85% dos cinemas americanos exibiam sessões duplas. Nessa época os grandes estúdios eram proprietários das maiores cadeias de cinemas conhecidas e isso lhes rendiam muito dinheiro, pois exibiam apenas seus próprios rolos de filmes. Em 1948 uma lei forçou os estúdios se desvincular das salas de exibição. Sem o controle dos grandes estúdios sobre as salas de cinemas, as sessões duplas perderam força e a era de ouro dos filmes B acabou. 

A partir dos anos 50, surgiram novos estúdios empenhados em fazer cinema com baixo orçamento, criando obras cinematográficas inspiradas temas fantásticos, clássicos da literatura e enredos apelativos. Esses filmes eram exibidas em modestas salas de cinema. Nessa época o baixo orçamento exercitava não só a criatividade, mas a percepção artística de seus criadores em desenvolver um filme com o maior apelo visual e narrativo possível. A Produtora Hammer foi um exemplo clássico dessas produções memoráveis, revelando grandes atores e ótimas histórias. 

Seus filmes mesclavam uma bela aula de fotografia e roteiro. Clássicos como “Dracula Has Risen from the Grave (1968)” revelou grandes atores como com Christopher Lee e Veronica Carlson. O inigualavel Christopher Lee que ficou imortalizado para nova geração como Saruman, mago branco da trilogia “O Senhor dos Anéis”, deu vida há um dos maiores personagens da literatura, Drácula. Além de carregar em sua biografia o fato de ser o único do elenco “O Senhor dos Anéis” a conhecer pessoalmente o escritor J.R.R. Tolkien. 

Além da subversão e crítica social, filmes como “Night of the Living Dead (1968)” que tornou George A. Romero o mestre dos filmes de zumbis, não só pelo gore de suas cenas, mas sim, por sobrepujar os clichês do gênero e utilizar os zumbis como pano de fundo para colocar o dedo na ferida em questões mais polêmicas: estupro, sociedade corrompida pelo consumo e por incrível que pareça, o apoderamento feminino. No entanto, infelizmente ou felizmente, filmes produzidos nesse período histórico acabaram sendo rotuladas como filmes B, embora essa expressão tenha nascido para definir outro período específico da história do cinema americano. Mas  Christopher Lee e George Romero não foram os únicos. Existem outros grandes nomes, diretores e atores, que escreveram belamente esse momento histórico do cinema independente.

Apartir da década de 60 os filmes de baixo orçamento tiveram um novo lar, os pequenos cinemas americanos. O mais conhecido deles situava-se na Rua 42 em Nova York que foram apelidados de Grindhouse (nome das antigas casa de espetáculos do extinto burlesco). Com a chegada da década 70 e a flexibilidade na censura, surgia então um novo período de experimentação, criatividade, subversão. O cenário australiano foi um grande revelador de grandes nomes e ausência de todos os limites. Os filmes B foram inovadores na exploração de diversos gêneros como Filmes de motociclistas, Negros (blaxploitation), canibais, carros, Giallo, Spaghetti Westerns, Horror Sanguinário e muitos gêneros e subgêneros de devassa e intensa criatividade.

Atualmente as obras intituladas de Filmes B, Undergrounds ou Independente deixaram há muito tempo ser especificamente produções do estilo “filmes bagaceira” (expressão pejorativa utilizada por quem desconhece ou não gosta do gênero) ou produções baixa qualidade. No presente momento tais filmes são caracterizados como obras que fogem do cenário mainstream do cinema contemporâneo. Ou seja, filmes que dificilmente encontraríamos em cartaz ou seriam pouco aclamados pelos holofotes de Hollywood, e tão pouco, se enquadrariam nos indicados aos Oscar. No entanto, tais filmes se sobressaem em sua qualidade por demostrarem um aspecto diferente referente aos demais filmes. Desconstruindo até mesmo os clichês que o próprio gênero satura com o tempo. Geralmente são inovações na direção, roteiro, história, fotografia e até mesmo na maneira subversiva de tratar de temas ou conceitos polêmicos.

Muitos dos diretores e atores aclamados que conhecemos hoje vieram dos filmes B. O CINE B tem essa função, trazer um novo olhar sobre os filmes marginais, independente do seu período histórico.

VEJA TODOS OS FILMES DO CINE B [AQUI]

Ou veja a lista dos artigos publicados 

[ATUALIZANDO]