Baseados em fatos, o filme narra a luta por sobrevivência de Solomon Perel, um jovem judeu alemão que consegue escapar à perseguição nazista, escondendo sua identidade judaica, e, paradoxalmente, encontrando refúgio junto à Juventude Hitlerista.
SOBRE O FILME E CONTEXTO HISTÓRICO
(sem spoiler...)
A Segunda Guerra Mundial e consecutivamente o holocausto já foram temas de muitos filmes de guerra. O fato histórico se tornou argumentação de diversas narrativas para inúmeros meios de expressão: filmes, séries, jogos, livros e até HQs. Com tanto conteúdo sobre o tema, de certa forma, nos tornamos “familiarizados” com os acontecimentos que envolvem a Segunda Guerra. Mas será mesmo? Será que realmente temos a noção do horror e medo que envolvem uma guerra? Será que de fato sabemos como nosso instinto de sobrevivência responderá à ameaça de morte eminente? E o mais importante. Conseguimos definir como, moral ou imoral, os meios pelos quais alguém conseguiu conquistar a sua própria sobrevivência?
Filhos da Guerra (Europa, Europa) o 15º filme da diretora polonesa Agnieszka Holland tenta nos responder essas perguntas e muitas outras. O filme é baseado na autobiografia Solomon Perel, filho de judeu, nascido na Alemanha. Porém não espere um filme típico “A Lista de Schindler”. A obra cinematográfica tem a sua carga dramática, porem com uma dosagem cautelosa, suficiente para que a emoção não sobreponha a razão dos contextos que iremos presenciar.
Em alguns aspectos a obra nos lembra o filme “Jojo Rabbit (2019)” do diretor Taika Waititi, pois se utiliza de alívios cômicos, muito bem dosados, para quebrar a tensão e nos apresentar a ignorância da ideologia nazista. Como por exemplo, o modo como os judeus são retratados pelos os nazistas. Seres bestiais e com proporções físicas assimétricas, longe do padrão ariano. E para provar sua teoria, um oficial de alta patente utiliza o nosso protagonista como padrão estético de medidas de um verdadeiro ariano. Não há como não rir e ficar angustiado ao mesmo tempo, pois ao contrário do filme de Taika Waititi, a obra não é humorística. Agnieszka Holland é dotada de uma habilidade pouco vista entre os diretores, saber COMO e QUANDO dosar, drama e humor, sem pareça boçal ou estrague o clima. Diria que é um filme dramático com pitadas de humor negro.

A história de Solomon Perel é ambienta entre os anos de 1938 e 1945. Tendo início na circuncisão do protagonista até os dias finais da segunda guerra. A diretora nos leva a uma jornada trágica, porém irônica em alguns momentos, pois ela não nos permite ficar demasiadamente sensíveis. Não há tempo para julgar ou sentir. O objetivo é sempre seguir adiante, sem nunca parar. A história de Salomon é frenética como uma epopeia de feitos gregos. Com heroísmo ou não, sabemos que o grande prêmio é a sobrevivência. O medo de morrer, o conflito com sua identidade e o jogo de interpretação diante dos nazistas é o que nos faz ficar presos na cadeira, aguardando ansiosamente pelo desfecho.
Como em todo regime fascista e autoritário. Nenhum líder se expressa com todos as palavras, expondo as verdades ocultas de suas reais intenções na primeira aparição. Do Hitler eleito, comunicativo que falava com as massas sobre a volta de uma Alemanha economicamente saudável, a retomada dos valores da família e da pátria em 1933 até o Hitler genocida de 1940. Foram necessários aproximadamente 6 anos para transformação da mentalidade do povo alemão. Todo regime fascista precisa de um inimigo em voga que seja “responsável” pelo fracasso presente da nação. Porém o mais importante é que esse inimigo soe tão animalesco e vil que justifique qualquer ato, lícito ou ilícito, do presente líder para exercer o seu poder e vontade sobre o Estado. Soa familiar?
A jornada de Solomon Perel por sobrevivência se inicia no meio dessa transformação social. O ano em questão é 1938. Bar-Mitzva de Solomon. O Bar-Mitzva é uma festa que comemora a maturidade na religião judaica. No caso de Solomon, esse dia único de sua vida ficou eternamente registrado na história como Noite dos Cristais ou Noite de Cristal do Reich. Uma manifestação levada a cabo pelas forças paramilitares das Tropas de Assalto do regime nazista (Sturmabteilung) e por civis alemães entre os dias 9 e 10 de novembro contra qualquer presença judaica em terreno alemão.
noite dos cristais (imagens reais) 1938
A Noite dos Cristais culminou em muita destruição, feridos e judeus
assassinados. Dos irmãos de Solomon, Bertha foi uma dessas vítimas. A partir
desse acontecimento a família decide mudar-se para Lodz na Polônia com medo do
ódio e movimentos antissemitas que cresciam dia após dia. Quando os nazistas
invadem a Polônia e firmam o pacto de não agressão com a União Soviética, a
família decide que Salomon e seu irmão Izaak precisam fugir rumo ao leste.
Em fuga o protagonista acaba se separando do seu irmão e é resgatado
pelo Exército
Bolchevique e sendo levado para um orfanato para
se tornar exímio comunista. Para contextualizar, o Exército Bolchevique também
conhecido Exército Vermelho ou Exército Vermelho dos Operários e dos Camponeses
foi um exército da falecida URSS, criado por Leon Trotsky dos Bolcheviques em
1918. O objetivo era defender o país durante a Guerra Civil Russa, porém foi
aliado em diversos conflitos, sendo substituído pelo Exército Russo em 1991. O
Exército Bolchevique era tão poderoso e estrategicamente organizado que
foi o primeiro exército a conseguir entrar em Moscou na II Guerra Mundial, além
do responsável pela Batalha de Stalingrado.

Voltando ao filme. Aos cuidados dos soviéticos, Solomon Perel é levado para Konsomo, uma espécie de escola especial para formar
jovens líderes do partido comunista. Observem. Essa é uma das partes mais
engraçadas do filme. Pois percebo que Solomon é um judeu não-praticante,
assim como sou cristão pela conivência cultural dos meus pais e localização
geográfica do hospital aonde nasci. Com o protagonista é quase a mesma coisa,
ser judeu é apenas uma identidade nacional, não há um vínculo de vida ou morte
com a religião judaica em seu íntimo. Ele respeita os ensinamentos de seus pais
e até os pratica. Porém não daria sua vida para a religião. E foi com essa
premissa que Solomon vislumbrou tranquilidade e sobrevivência junto a juventude
soviética comunista.
Atento as regras do jogo, abraçou a sua
oportunidade de sobrevivência. Tratou de negar a deus e idolatrar Stálin. No
entanto quando tudo parece tranquilo a Alemanha nazista invade a União
Soviética e Salomon e seu grupo são capturados. O protagonista se safa pela sua
astúcia comunicativa e a eximia habilidade de falar o alemão sem sotaques.
Encorajando os nazistas a acreditarem que ele também é um legítimo ariano.
Dessa forma ele acaba sendo incorporado ao exército de Hitler como tradutor de
alemão e russo nas comunicações de guerra.
Sem spoiler, isso é tudo o que você precisa saber sobre o
filme. Pois acreditem, toda essa minha narrativa ocorreu nos primeiros minutos.
O que se segue é uma luta frenética do protagonista para preservar sua
identidade e lutar com a sua estabilidade emocional. É incrível imaginar que
realmente aconteceu uma história tão fantástica e com uma trajetória que
abalaria as estruturas emocionais de qualquer um de nós.
Sem entregar o desfecho. No final do filme, juntos aos
créditos, surge o verdadeiro Solomon Perel olhando para o horizonte. Observando o pôr do sol, esse
símbolo místico da presença de deus em muitas culturas. A sensação que tenho
diante dessa cena foi a contemplação da ironia da própria existência. Qual o
sentido da vida, tendo a consciência de tudo o que viveu, vislumbrou e
participou até aquele dado momento? Pois todos os que conheceu e seus
familiares estão mortos. O passado para as pessoas a sua volta não tem o mesmo
significado como para si mesmo. Qual a mensagem da vida nesse contexto? Será
uma ironia do destino ou uma piada divina? Acho que essas perguntas só Solomon
pode responder a si mesmo.
Particularmente nunca acreditei em um significado místico ou
mágico para a vida. E jamais julguei que a minha vida tenha um motivo especial
e transformador diante das demais. Sempre julguei que o sentido da vida é
viver. E a única diferença cultivamos são para aqueles que nos cercam por um
breve momento em nossa existência. Afinal, após a morte, os anos apagam da
memória a nossa imagem na mente dos vivos e os séculos negam a nossa existência
em um lugar que não mais nos pertence. Por isso, dentro de nossas
possibilidades, façamos o melhor que podemos fazer com a nossa vida hoje.
Vivemos, amamos, aprendemos, transamos e dizemos o quanto alguém é importante.
Pois metade da vida passamos lidando com nossos conflitos sociais e individuais
e a outra metade (se restar mágoas) passamos lamentando o tempo perdido. O
único sentido da vida é viver. E tudo aquilo que deseja fazer com a própria
vida. Acima de tudo, Solomon Perel nos ajuda a entender essa viagem
filosófica e irônica sobre o significado da vida.
Bom Filme!
FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO: Agnieszka Holland
GÊNERO: Drama | Guerra | História
ORIGEM: França
IDIOMA: Francês, Alemão, Russo
MINHA NOTA: 9.0
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