sábado, 10 de abril de 2010

MARTYRS (2008) Dir. Pascal Laugier



Uma experiência neurovisual


Sem sombra de dúvidas “Martyrs” é uma experiência neurovisual sobre a sutileza do horror contido na mente humana como raramente é apresentada dentro do paralelo entre as expressões Horror e Gore. É um filme que supera todas as propostas, caricatas, já representadas dentro deste gênero tão rasurado por produções medíocres. “Martyrs” é uma das raríssimas exceções em que a temática tão condenada no meio cinematográfico é apresentada de forma séria e confiante, trazendo uma trama visual tão angustiante, quanto dramática e fascinante. É ao mesmo tempo, inesperada e surpreendente, levando o telespectador a diversas sensações que oscilam entre agonia, tensão, horror e tristeza.


HORROR COM CRIATIVIDADE
A revelação do horror Francês


Este fantástico e agonizante filme é dirigido pelo francês Pascal Laugier que também é responsável pelo impecável roteiro, tornando o filme digno de sua excelência. Repito, não é mais um longa com várias cenas clichês que giram em torno de banhos de sangue e violência gratuita. A sagacidade narrativa desta obra excede o próprio horror contido nas cenas, levando o telespectador a transcender a violência, focando a tensão de sua mente nas causas primárias da trama, sutilmente indefinidas, mas pouco a pouco, compostas como um quebra-cabeça com peças que nos são ofertadas cautelosamente. E este é o grande segredo desta singular produção de Pascal Laugier, trabalhar com a mente do telespectador, manipular o despertar dos sentidos diante de algo que parece obvio, porém, análogo a qualquer conclusão previa, culminando em uma progressão e final inesperado.

Particularmente falando eu não conhecia os trabalhos de Laugier, apesar de estar familiarizado com algumas produções independentes do cenário Europeu. Confesso que fiquei muito surpreso e impressionado com sua consistência, principalmente diante de sua competência ao desvincular a acefalia cinematográfica contida nos filmes do gênero. Trazendo assim uma roupagem renovada, tangendo uma trama psicologicamente inteligente e perturbadora. Sem contar com o seu tratamento a edição, cortes secos sem impacto sonoros, trabalhando belamente com a trilha sonora em contraste com os efeitos visuais mais impressionantes e realistas que já vi.


UM PONTO POSITIVO
Qual é a proposta do Horror?


É muito difícil o gênero Horror causar alguma impressão positiva neste que vos fala. Refiro-me ao quesito - objetividade e criatividade na produção. A maioria das obras conhecidas do gênero não passam de um amontoado de tripas e humor negro inexpressivo que servem apenas para justificar a ausência de uma trama coesa e inteligente. Lembrando que me refiro apenas aos filmes de Horror. Pois há uma gigantesca diferença entre as propostas contidas (e subgêneros) entre os gêneros Horror e Terror.  E para ser cômico e tosco já contamos com linha B dos filmes de terror, representada pelos clássicos como “Dead-Alive” (Peter Jackson), “From Beyond” e “Re-Animator” (Stuart Gordon), “Evil Dead” (Sam Raimi) dentre outros. Cômico e tosco, não deveria ser a proposta do gênero Horror.

Realmente sou contra a banalidade apresentada pelo gênero. Muitos filmes apenas beiram a questão prática e cômoda ao apresentar “o asco pelo asco”. Acredito que tal gênero, o Horror, tem muito oferecer quando produzido com sagacidade e astúcia. Pois a estratagema, o “As de Espada”, o grande ardil, espírito vivo do gênero Horror é justamente ressuscitar reflexões impactantes sobre o lado vil da mente humana, despertando assim, sentimentos e pensamentos vivos, antes inexpressivos, devido ao enorme banquete de violência banal que nos é ofertado diariamente. Atualmente esta é a grande muralha do Horror, exceder a banalidade das atrocidades humanas, excitando sensações impares através dos sentidos adormecidos. Impulsionando questionamentos atrofiados devido à banalidade atroz de nossa espécie.
   
De fato é uma tarefa muito difícil, pois estamos diante de uma agremiação de indivíduos frígidos de sensações e percepção. Estamos diante de uma sociedade cadavérica consumida pela praticidade como a violência se reproduz. Tudo isso nada mais é que um grande deleite a indústria do entretenimento e informação. Pois não são os filmes de terror (ou Horror) que banalizam a violência, mas a facilidade como as atrocidades humanas são cultuadas e salientadas em nossas mentes através da roupagem “informação jornalística” que a mídia nos apresenta. Isso torna o indivíduo cada vez mais insensível perante a vida e a morte. Estamos acostumados com o caos, ele faz parte de nossa rotina e é a justificativa mais prática para nossas fúteis indagações.

São poucos os filmes intitulados Horror que não caem na banalidade visual: violência pela violência. Afinal o que há de mais grotesco que ainda não vimos e que possa nos chocar? Essa tem sido a pergunta que muitos cineastas tentam responder, excitando ainda mais o culto a violência gratuita. A pergunta correta seria: “Diante de todo horror. O que não conseguimos vislumbrar sobre a bestialidade de nossa natureza?”



MARTYRS: O FILME
Palavras não valem a experiência diante da tela

O cenário cinematográfico Frances é composto por grandes diretores como Jean-Jacques Annaud responsável por filmes como "Seven Years in Tibet" (Sete anos no Tibete), Der Name der Rose (O Nome da Rosa) e outros nomes de peso como Marc Allégret, André Berthomieu, Pierre Colombier e etc. Porém nada se compara ao cenário  cinematográfico atual do Horror Frances. “Alta Tensão” (Haute Tension / High Tension, 2003), “Eles” (Ils / Them, 2006), “A Invasora” (À L´intérieur / Inside, 2007), “Fronteira (A)” (Frontiere (s) / Frontier (s), 2007), e agora “Martyrs” (2008). Ao contrário das produções americanas, os filmes franceses vêm se destacando em originalidade no enredo e sagacidade na direção ao apresentar de forma coesa todas as visões violentas e perturbadoras do horror, sem cair nos excessos e cenas clichês tão comuns ao gênero.


Quando assisti “Martyrs”, só tinha conhecimento superficial de seu conteúdo e algumas informações técnicas. É isso que deixo a vocês, caros leitores, pois justamente a experiência neurovisual não se compara a uma sinopse que desmistificará toda a surpresa diante da progressão que “Martyrs” tem a oferecer. E foi justamente por não saber muito sobre o desenvolver da trama que ela se tornou cativante com a progressão do filme. 

A principio se imagina “mais um filme de menininha” com visões aterradoras. Depois surgem as vinganças e logo você começa a prever o final até que nenhuma das peças se encaixam, então o filme, pouco a pouco, lhe apresenta novos fragmentos para aquilo que irá compor um final completamente incomum. 


Martyrs é dividido em duas partes distintas, ambíguas, porém tão sutil que ao final tudo se encaixa perfeitamente, deixando o telespectador boquiaberto ao desvendar a razão dos fatos. A primeira parte é definida por narrativas compostas por puro e violento horror. Algo que mistura traumas psicológicos com perseguição fantasmagórica e uma revolta incompreensível.  A segunda parte não pode ser caracterizada apenas como “torture porn”, mas sim como um drama e um estudo do que o ser humano é capaz de realizar para obter respostas cientificas. 



Os trinta minutos finais são carregados, desconfortáveis, angustiantes e por fim poéticos. E mesmo que para alguns o final seja cínico, há uma reflexão perturbadora sobre os princípios da natureza humana. E com certeza você sentirá, pelo menos, um pouco de tristeza diante de tudo o que se concluiu. Não é um filme para muitos, mas recomendo para aqueles que desejam novas experiências, sem falso moralismo perante a violência que é apresentada.

Mártir: Nome, Adjetivo. Do grego “Martures” - Testemunha


FICHA TÉCNICA

Direção: Pascal Laugier
Roteiro: Pascal Laugier
Produção: Richard Grandpierre; Simon Trottier; Frédéric Doniguian; Marcel Giroux
Edição: Sébastien Prangère
Música: Alex Cortés ; Willie Cortés
Elenco: Morjana Alaoui (Anna); Mylène Jampanoï (Lucie); Catherine Bégin (madame); Robert Toupin; Patricia Tulasne; Juliette Gosselin (Marie); Xavier Dolan-Tadros (Antoine); Isabelle Chasse (a criatura); Emilie Miskdjian; Mike Chute; Gaëlle Cohen
Origem: França/Canadá
Gênero: Horror


[Atualização das fontes para download em 01/06/2020]


DOWNLOAD TORRENT+LEGENDA
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Formato: MP4
Legenda:Sim 
Fonte: Mega.nz
Nome do Arquivo: Martyrs.rar


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Resolução: 1080 dpi
Formato: MP4
Legenda:Sim 
Tamanho: 1.50 GB
Compactação: Winrar
Fonte: Mega.nz
Nome do Arquivo: Martyrs(F).rar