quarta-feira, 26 de junho de 2013

TROUBLE EVERY DAY (2001) Dir. Claire Denis




 Apesar do título em inglês o filme é uma produção ousada da diretora francesa Claire Denis. Seus filmes sempre caminham pelas sutis veredas dos instintos e libidos humanos, sobre a carne e seus impulsos mais irracionais, seja a criminalidade serial como no filme “J'ai pas sommeil (Noites Sem Dormir, 1994)” ou recalcamento homossexual como em "Beau travail (Bom Trabalho, 1999)". É típico do estilo de narrativa estética da diretora a obra ser extremamente tátil, deixando a câmera farejar, lamber, tocar os atores. Em “Trouble Every Day” não é diferente. O filme não prática excessos em falas e diálogos explicativos, as cenas acontecem quase desconexas entre si, entre personagens diferentes e cenários distintos, mas por fim, tudo se encaixa com um propósito em comum. De certa forma isso cativa atenção, somos obrigados a construir a natureza dos fatos enquanto a história se transforma diante de nossos olhos. 

Assim como os demais filmes do expoente francês aqui apresentado, principalmente a nova safra de diretores do cenário “cinema francês extremo”, o famoso cinema de bordas, ou como chamo, underground. O que vemos são leituras inverossímeis do gênero e contextos que poderiam cair no clichê. Porém esse é o diferencial do cinema francês, seja o tradicional ou o cinema de underground que tanto paparico. Em filmes como "Martyrs" [veja AQUI] e "Saint Ange (A Profecia dos Anjo)" de Pascal Laugier, "Haute tension" de Alexandre Aja, "Frontière(s)" de Xavier Gens ou "À l'intérieur" dos diretores Alexandre Bustillo/Julien Maury [veja AQUI]. Ou até mesmo nos dramas recheados de mistério como "Holy Motors" de Leos Carax, "La Moustache" de Emmanuel Carrère e "Maléfique" do diretor Eric Valette [veja AQUI]. Todos se diferenciam pela construção de suas histórias, nada explicativas, porém muito criativas, cabíveis a sagacidade de interpretação do telespectador, algumas vezes ocasionando a decepção para aqueles que apreciam enredos mastigados. No entanto sempre será uma surpresa para aqueles que degustam uma trama inverossímil, construída com sagacidade e inteligência. Claire Denis apresenta em sua obra justamente essa construção desordenada com finalidade de uma conclusão mais impactante, com diálogos minimalistas e planos altamente narrativos.


Retornando ao que realmente importa. Sobre o que se trata o filme? Eis a razão de utilizar a palavra “ousada” para essa produção. A atmosfera de Trouble Every Day é justamente um tema muito delicado, o canibalismo amoroso literal estimulado por uma libido intenso causado por uma patologia especialmente rara. Por isso digo “ousada”, provavelmente nas mãos de um diretor de menor calibre o filme iria escorrer pelo ralo do gore sem sentido e no trash ao estilo "The Texas Chain Saw Massacre (O Massacre da Serra Elétrica 1974 -2003)". 

No entanto Claire compôs com toda sutileza o que era cabível a uma excitação e conotação erótica aos estímulos exóticos, com certo deleite de “Voyeurismo hardcore” das cenas de ápice sexuais sempre movidas aos desejos extremo da carne. Sem deixar cair na vulgaridade da pornografia barata ou “porn-gore” descomedido. Equilibrando o sentido do extremo, esquadrinhando a progressão da história e o contexto, dos mistérios que permeia os personagens principais e suas enfermidades. O erótico voraz e a violência narrativa são excitantes e impactantes ao mesmo tempo, mas não deixam de sobrepujar o valor da história.


Em alguns momentos sentimos uma dose de Cronenberg, sobretudo se compararmos com uma obra-prima do porte de "Crash - Estranhos Prazeres (1996)". Para refrescar a memória  o filme narra à história do cineasta, James Ballard, que se envolve em um acidente de carro se tornado um “deficiente” físico. Após conhecer outras pessoas que passaram pela mesma situação, descobre que um pequeno grupo, motivado por um artista, fotógrafo, motivado pela excitação de registrar cenários de acidente automobilísticos, além de transforma cicatrizes em artes. Ballard se envolve com as pessoas deste grupo, todas motivadas por um transtorno sexual em comum, prática sexual em automóveis em alta-velocidade e cenários catastróficos.



Em “Trouble Every Day (Desejo e Obsessão)” não é diferente. O transtorno sexual é visto como uma doença, como um vício, mais ainda, a narrativa fragmentária de da diretora sugere que todo esse processo se deu por conta de um erro científico. É justamente sobre o apetite incontrolável que a fotografia se faz presente como uma narrativa indispensável. A primeira delas a viagem de lua-de-mel de Shane, interpretado por Vincent Gallo, um homem atormentado e com apetite sexual incontrolável. Ao mesmo tempo, ele está procurando por um médico, Léo (Alex Descais) que segundo colegas teria caído em desgraça no meio científico por querer estudar os fatores celebrais que flagelam a esposa. A estonteante e exótica Coré, na fantástica atuação de Béatrice Dale. Coré é atípica e completamente instintiva e animalesca em seu quadro crônico. Insaciável Coré sempre está à procura de novas relações todas levam os seus parceiros até a morte, canibalizando-os literalmente. 



Se por um lado Coré se deixar dominar por seus instintos mais selvagens, liberando feromônios, sendo totalmente atrativa e voraz as suas vítimas sexuais. Por outro lado Shane vive constantemente tolhido as relações sexuais com sua esposa, muitas vezes demonstrando uma melancolia oculta por um desejo intenso que vai além do mero contato humano. Entre as expressões de Share e Coré quase não há sensualidade, o desejo é tratado de forma primitiva, necessidade básica. A diretora faz de tudo para ora esconder essa intensidade e em alguns momentos demonstrando de maneira voraz, porém sempre deixando a luz o tema como  personagem principal, as sensações acima dos personagens. O filme prossegue com Shane em busca por uma cura, lutando com os seus instintos mais perversos. 



[Spoiler] Em certo momento o personagem não consegue sentir prazer com a esposa, masturbando vorazmente. Até que em determinado momento se entrega aos seus instintos animalescos. Com certeza essa é uma das cenas mais eróticas e, com a progressão dos fatos, mais chocantes! Em um ato de infidelidade com a copeira do hotel que se entrega completamente aos desejos do hospede, Shane vai de dominador para devorador. As mulheres terão seus pelos pubianos eriçados nesse momento. Literalmente é devorada a vagina da jovem que vaga entre excitação e horror até realmente ter consciência da mutilação e o fim. Porém tudo é feito com muito polimento, sem excessos ou exageros. [Spoiler]


Concluo o artigo deixando meus aplausos vão para Béatrice Dale. Quem acompanha o Imemorável provavelmente viu a postagem do filme “À l'intérieur (A Invasora, 2007)" dos diretores Alexandre Bustillo e Julien Maury. [veja AQUI]. No artigo (recomendo que leiam!), além detalhar a natureza do filme, faço uma breve biografia da natureza exótica da atriz. Sua atuação em “À l'intérieur” já havia me surpreendido completamente. Já na obra da diretora Claire Denis a atriz está praticamente irreconhecível, figurando totalmente a natureza exótica e animalesca da personagem Core. Mostrando novamente a habilidade em vestir personagens extremamente exóticos. Que alias, são apenas lufas de inspiração de sua vida pessoal. Recomendo que leiam o artigo, baixem o filme e tirem suas próprias conclusões.

FICHA TÉCNICA


Direção: Claire Danis
Título Original: Trouble Every Day
Título de Divulgação no Brasil: Desejo e Obsessão
Gênero: Drama, Suspense, Terror
Origem:França
Ano: 2001
Atores principais:Vincent Gallo, Tricia Vessey, Béatrice Dalle
Minha nota: 8,5
Trailer: Assista

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