domingo, 27 de setembro de 2009

THE ADVENTURES OF MARK TWAIN (1986) Dir. Will Vinton



Em 30 de novembro de 1835, o Cometa Halley passou pelo nosso pequeno planeta. No mesmo dia,  novo mundo, nascia o mundialmente famoso escritor Mark Twain, autor de obras como "As Aventuras de Tom Sawyer" e "As Aventuras de Huckleberry Finn". Em 1909, 74 anos depois, Twain escreveu o seguinte a respeito dessa coincidência: 

"Eu cheguei com o Cometa Halley em 1835. Ele vai voltar ano que vem, e eu espero que leve-me junto".


No dia 21 de abril de 1910, o Cometa foi visto novamente cruzando os céus do planeta. No mesmo dia, Mark Twain faleceu. Essa assustadora coincidência é o ponto de partida do genial longa-metragem em stop-motion "As Aventuras de Mark Twain".




UMA OBRA-PRIMA DA ANIMAÇÃO

"As Aventuras de Mark Twain", esta obra-prima da animação dirigida por Will Vinton, cativa a atenção em sua absoluta perfeição e complexidade perante a técnica Stop-Motion. Este trabalho é muito superior a outras produções da época, como, o mundialmente famoso e lastimável “Moonwalker” (1988) do eterno "zumbi pop", Michael Jackson

Ao contrário de “Moonwalker” há no trabalho de Vinton um perfeccionismo no desenvolvimento dos quadros, nos movimentos, nas expressões dos personagens e em toda ambientação. De fato sabemos que é uma "animação em massinha” apenas visualizando a obra em geral, porém, há em todo o conteúdo uma sutileza e um excelente acabamento final que torna a obra digna e superior a qualquer outro filme com a mesma técnica produzida naquela época.


A OBSCURIDADE DE MARK TWAIN

Em seu lançamento, 1986, "As Aventuras de Mark Twain" foi considerado um filme um tanto obscuro para as crianças. Talvez devida as densidade das reflexões que são expostas, trazendo indagações sobre a Vida e a Morte, a natureza humana e sua dualidade tanto para o belo, quanto para o feio.



O filme se desenvolve em pequenas estórias, todas narradas apartir de conceitos filosóficos expressos pelo próprio Mark Twain, arrepelações contrapondo os conceitos e idéias daquilo que se julga verdade absoluta sobre certos temas um tanto nocivos, e ainda assim, muito moralista como: o céu, o inferno, o bem e mal e a importância da vida. Porém, pessoalmente falando, considero o filme infantil e apto a qualquer criança, mas não infantilóide. Provavelmente o que eriçou os pêlos dos conservadores foi o humor satírico sobre certos conceitos sociais e religiosos.  Trago o exemplo de uma frase dita por Twain a Tom Sawyer, surpreso diante de certo desfecho na progressão da história. Disse Twain:

"Você parece desapontado assim como um cristão fiel no inferno". 

Como podemos observar são sátira engenhosas que expressam muito além de sua sutileza para alguém que saiba “ler” nas entrelinhas.




O ponto mais “obscuro” desta animação é quando se iniciam as reflexões sobre o lado vil da natureza humana. Neste ponto, Twain apresenta um personagem peculiar que não é propriamente a representação do mal absoluto como o cristianismo o simboliza, mas sim, aqui presente, representa um catalizador, uma lupa sobre todo o mal que reside na natureza humana em si, sem a necessidade de agentes externos.

Conhecemos então “O Estranho Misterioso” (A Mysterious Stranger) ou Satan, personagem do livro de mesmo título Mark Twain, último trabalho após a sua morte, escrito partir de 1890 até 1910.



O livro lançado em 1916 apresenta uma crítica a um modelo social hipócrita e mesquinho abordando ideias de senso moral e do declínio da raça humana. Mark Twain se encontrava no fim da vida, amargo, solitário e com pouca fé na humanidade. Notou que as décadas passaram, mas nada mudou. O ser humano se resumia ao apego aos bens materiais, ganância, falta de empatia, individualismo e até mesmo barbáries.  

O Estranho Misterioso é um livro da maturidade, universalista, uma perturbadora indagação sobre a natureza do ser humano.  Encontramos na obra literária uma idéia que C.G. Jung iria desenvolver: a realidade psicológica é a única que existe. Percebemos aqui a futura visão junguiana de que bem e mal são uma única coisa e estão ambos presentes em Deus, em Satã e na Natureza.




Na animação o personagem Satan, apresenta-se com um anjo, demonstrando seus poderes as crianças, expondo-as a visão da natureza humana apartir de seus olhos.

Assim como na obra literária, temos um fragmento da visão de Satan sobre a natureza humana. Ao seus olhos somos meros animais que brincam de deus, fingindo uma superioridade que não existe, classificando seus semelhantes em raças, superiores e inferiores. Mas que no final não passam de animais com estranhos costumes e crenças múltiplas, ocupando suas existências e fugindo de um vazio incompreensível. 

Satan conclui com um pensamento que satiriza nossa superioridade entre a imensidão do universo.

“Você não é mais do que um pensamento”.

CONJURAÇÕES FINAIS

Infelizmente Mark Twain não estava de todo errado. Mais um século se passou após o lançamento da obra “A Mysterious Stranger” (O Estranho Misterioso) e ainda assim a futilidade e trivialidade que o ser humano denota a sua própria existência e a do próximo é assustadora. Se você ficou curioso sobre o livro “O Estranho Misterioso”, além da leitura dessa fantástica obra, recomendo ler, se quiser se aprofundar mais no assunto, o artigo “Verdade e Pesadelo em O Estranho Misterioso de Mark Twain”, escrito por Nils Goran Skare. (LEIA) O artigo em questão analisa essa fantástica obra de Twain a luz do olhar de três grandes teóricos: Jacques Lacan, Jacques Derrida e Julia Kristeva. O artigo é uma publicação original da revista digital, Anagrama, do grupo de estudos de linguagem da USP.



E claro, não poderia deixar de mencionar que Mark Twain também é figura presente no rock. Serviu de inspiração para banda canadense, Rush na produção do álbum “Moving Pictures” de 1981 com a música “Tom Sawyer” [AQUI]. A música ficou mundialmente conhecida como a “música da abertura” da série MacGyver de 1985. Rush é uma daquelas bandas que sua maior influência musical, além dos elementos musicais como jazz, blues e rock; é sem dúvida a literatura. Então se você quer conhecer os pais do rock progressivo e imersão de suas letras, ouça Rush.

FICHA TÉCNICA

Gênero: Fantasia, Aventura, Comédia
País: EUA
Ano: 1985
Minha Nota: 9,0
Trailer: AQUI

[Atualização das fontes para download em 01/06/2020]

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