sexta-feira, 4 de março de 2011

Lado B - Como Fazer um Longa sem Grana no Brasil (2007) Dir. Marcelo Galvao


Lado B - Como Fazer Um Longa Sem Grana no Brasil


Atualmente com o advento da internet qualquer indivíduo, pensante ou não, pode produzir um vídeo. Na maioria das vezes somos obrigados a ver um número infindável de produções toscas com comicidade duvidosa devido à ausência de algo primordial no ser: Senso-crítico e criatividade. Infelizmente, diariamente a internet regurgita uma quantidade incalculável de vídeos de péssima qualidade, cheios de “Eu quero ser artista” ou com o subtítulo de “produção independente” ou “curta-metragem”, carregando cunhado em seu eixo o rótulo de Trash ou produções B.


O CINEMA INDEPENDENTE


Não basta apenas ter uma idéia na cabeça e uma câmera na mão para se produzir um filme. E com certeza a tal inclusão digital facilitou muito para que os meios de propagação visual se tornassem cada vez mais obscuro para os produtores independentes. Dificilmente o público tem acesso às produções independentes com caráter profissional. É claro que não posso deixar de admitir que a inclusão digital abriu as portas para um meio que era dominado somente por aqueles que tinham equipamentos profissionais, materiais adequados  e meios para executá-los. No entanto, a tal inclusão digital é uma faca de dois gumes: o fácil acesso onde todos são expostos, porém poucos são ouvidos.

O diretor Marcelo expõe no documentário as duras penas de se fazer cinema no Brasil
Produzir um filme, seja ele um longa-metragem ou um curta, muitas vezes requer um custo considerável e um respeito patriótico à produção cultural do país, algo que o nosso Brasil raramente se demonstra prestativo a exercer. O cineasta e seu projeto ficam diante de duas facas afiadas. De um lado temos o governo que “disponibiliza” a verba de incentivo a cultura, porém, essa tal “disponibilidade” exige um certo apadrinhamento e amizade com aqueles que vão julgar se o seu projeto é viável ou não. Por outro lado nos resta alguns empresários de mentalidade inferior que, na maioria das vezes, vê a arte como uma propaganda publicitária de sua marca. E hipocritamente não associam a sua marca com temas e questões polêmicas. São esses mesmos algozes do capital que falseiam suas penas de abutres com propagandas sobre responsabilidade social. Então resta ao cineasta independente a  cara limpa, a coragem e a criatividade.


PRODUÇÃO SEM GRANA E COM CORAGEM 
O documentário que expões as verdades que não concorrem ao Oscar

De frente com a realidade surgiu esse interessantíssimo documentário do diretor Marcelo Galvão. Que além de ser o retrato cru da realidade nua do cinema independente nacional, sem sombra de dúvidas é uma aula de bravura (e dicas muito válidas!) do que é necessário para produzir um filme no Brasil.

O documentário conta com a participação do diretor Fernando Meirelles

O documentário relata as dificuldades da produção do primeiro longa de sua carreira, o premiado QUARTA B. O filme foi produzido com pouca verba e eleito o Melhor Filme pelo público na 29ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Por ser um filme com temas que ardem aos ouvidos dos patrocinadores - o efeito do uso das drogas - encarou várias dificuldades que vão desde intervenção evangélica até batida policial durante as filmagens.

Produção do filme Quarta B

Apesar do ponto de partida pouco esperançoso, o documentário apresenta uma versão bem-humorada do drama da equipe, recheado por depoimentos de pessoas importantes do cinema brasileiro, como Fernando Meirelles, Ugo Giorgetti, José Eduardo Belmonte, Alexandre Stockler, e Theodoro Fontes. Como profissionais, eles expõem suas próprias experiências e dificuldades.


SOBRE O DIRETOR MARCELO GALVÃO


Além do “Quarta B” o diretor Marcelo Galvão impressiona pela diversidade dos temas em que trabalha. Por exemplo, “Colegas, O Filme”. Segue a sinopse: “O filme que aborda de forma inocente e poética coisas simples da vida através dos olhos de três jovens com síndrome de Down. São eles: Stalone, Aninha e Márcio, colegas que se comunicam basicamente através de frases célebres de cinema, resultado dos anos em que trabalharam na videoteca do Instituto Madre Tereza, local onde vivem. E um dia, inspirados pelo filme Thelma & Louise, resolvem fugir no carro velho do jardineiro (Lima Duarte) em busca de seus sonhos (...)” (retirado do site do filme - www.colegasofilme.com.br)

Lima Duarte e Marcelo Galvão

Em outra aresta surge o interessantíssimo filme “Bellini e o Demônio” baseado no livro de Toni Belloto. O filme é o retorno as telas de Fábio Assunção. O ator interpreta o personagem Belini, o detetive que se vê em uma busca frenética, envolto em assassinatos brutais, rituais satânicos e visões macabras. O filme narra a busca de Belini para encontrar um livro considerado maldito, o conhecido “O Livro da Lei” de Aleister Crowley. Assistindo ao trailer no próprio site do filme (www.bellinieodemonio.com.br), tive a impressão, talvez equivocada, pois não assisti ao filme ainda, mas tive a impressão de uma semelhança com o “O Último Portal (The Ninth Gate)” do diretor Roman Polanski.

Fábio Assunção e Marcelo Galvão
O filme do Polanski também trata da história de um detetive, neste caso um comprador de livros antigos, Sr. Dean Corso (Johnny Depp) que é contratado por Boris Balkan (Frank Langella), um entusiasta por ocultismo que acabou de conseguir um raríssimo do livro do século 17 que, segundo a lenda, foi escrito a punhos pelo próprio Diabo e traz uma poderosa invocação satânica. Balkan deseja que o Sr Corso excursione pela Europa em busca de outros livros do mesmo autor para comprovar quais dos títulos são considerados os verdadeiros.

Provavelmente é apenas uma semelhança entre os filmes, “Bellini e o Demônio” será o próximo filme que irei assistir e assim poderei comprovar as diferenças. Mas fica aqui o meu respeito ao diretor Marcelo Galvão.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
sobre o documentário

O documentário é um reflexo fiel das dificuldades de se fazer filme no Brasil, não somente na questões financeiras, mas principalmente no obstáculo que é fazer com que todos os envolvidos abracem a sua idéia em todo o conceito e contexto que ela foi criada.  Pessoalmente tenho vários exemplos. Sou fotografo e redator por paixão, estou nessa busca ativa por quase 10 anos. Vislumbro as dificuldades. Não me refiro somente a arte cinematográfica, mas em outros projetos independentes que já iniciei ou estive inserido. Sem sombra de dúvidas, a maior dificuldade é fazer com que aqueles que estão como co-produtores de seu projeto, tenham o mesmo feeling e o rápido insight como você, vislumbrando os objetivos finais.

Eu já trabalhei em alguns curtas, já inscrevi os meus roteiros em projetos de incentivos culturais, já estive a mercê dos algozes citados anteriormente, já trabalhei de graça para cultivar colaboradores em projetos futuros. Sei o quanto é difícil conciliar e praticar aquilo que lhe estimula o sabor da vida (as artes e adjacentes), ainda mais conciliando com as obrigações sociais e econômicas que algumas vezes se apóiam em barreiras da própria falta de acesso a liberdade cultural.

A situação mais chata que me encontrei foi quando tiveram a cara de pau de pedir meu equipamento fotográfico emprestado, deixando nas entrelinhas a ausência da minha visão profissional. Mas isso já é coisa da cidade totalmente provinciana onde moro, chamada Maringá. Assunto que não irei me estender, pois o Imemorável é um site de opiniões e conteúdo, e não questões pessoais deste autor. 

Fechando o artigo, o documentário “Lado B - Como Fazer Um Longa Sem Grana no Brasil” é uma prova de que, em um país sem apoio a cultura, um bom filme tem que conter três coisas: um excelente roteiro, um grupo unido e perseverança.


FICHA TÉCNICA

Direção: Marcelo Galvão
Ano: 2007
Duração: 70 minutos
Origem: Brasil
Audio: Português
Legenda: Não

ARQUIVO

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