sábado, 27 de agosto de 2011

The Good Son (1993) Dir. Joseph Ruben


The Good Son
“O Anjo Malvado”
(1993)

O tempo é uma coisa engraçada. Quanto mais cogito sobre o passado, quanto mais recordo os sabores e as sensações de épocas distantes, caio sempre em um “mantra reflexivo”, tentando contextualizar como eram as tais sensações que eu sentira. E se elas ainda se encaixam no meu estado atual de concepção. Foi esse estímulo que fez com que eu deliberasse alguns pensamentos sobre o filme “The Good Son (1993)”, aqui no Brasil conhecido como “O Anjo Malvado”.

“The Good Son” é um bom filme. Só não o veja como uma obra-prima do gênero “suspense dramático” como o sombrio “The Omen (A Profecia, 1976)” do diretor Richard Donner. Que, aliás, traz Gregory Peck interpretando pai do anticristo, um garotinho chamado Damien. Sem dúvida uma das crianças com a expressão mais demoníacas que já vi. 
Damien
Damien com certeza deixa essa safra de “teenagers do mal”, como a Samara Morgan (O Chamado), parecendo mais um bando de adolescente sem causa.  Portanto, “O Anjo Malvado” do diretor Joseph Ruben não é nenhum filho de Lúcifer como a sementinha do mal de Richard Donner. Mas a obra tem uma boa história que não fraqueja durante a narrativa. Sem deixar de lado a oportunidade de presenciar dois atores em ascensão: Elijah Wood e Macaulay Culkin.


O FILME


O filme tem um inicio dramático, Mark Evans (Elijah Wood), presencia o falecimento da sua mãe já adoecida há algum tempo. Seu pai decide deixá-lo na casa de sua cunhada Susan Evans para que possa cuidar dos negócios, prometendo retornar em três semanas. Mark fica na companhia de seus primos Connie Evans e Henry Evans (Macaulay Culkin).


Elijah Wood e Macaulay Culkin
Henry aparenta ser um garoto comum como todos os outros de sua idade. Mas oculto em seu jeito brincalhão e sorriso angelical, se esconde um segredo tenebroso e um maléfico senso de humor. Com a progressão do filme Mark percebe certas silhuetas da natureza Henry. Como a perversidade para com a vida e o prazer e hábil retórica ao falar sobre a morte. Fica claro para Mark que a amizade entre ambos é apenas um jogo de gato e rato. Quando mais ele nutre afeição por sua ‘nova família’, mais se eleva o desprezo pelo próximo aos olhos do primo.

Devido à morte de sua mãe, Mark adota as feições da tia Susan como uma referencia materna. A partir deste ponto os fatos ocultos são revelados, Henry já não esconde as suas intenções macabras. Agora Mark terá que lidar com um homicida e o seu bel prazer em vitimar todos a sua volta, inclusive a própria mãe.


Apesar de não ser um Best-seller da sétima arte o filme não deixa a desejar. Sempre há ápices de suspense e tensão no jogo de amizade entre Mark e Henry. Porém é no final do filme que o título original - The Good Son - faz juízo a obra. Com certeza maior crítica que se cabe em relação ao filme seja a relevante  superficialidade com que se retrata a mente de um psicopata. Pois de fato uma criança não tem a percepção, a sagacidade de um planejamento meticuloso como um criminoso, como um adulto teria. Mas o diretor Joseph Ruben soube trabalhar com o personagem de Macaulay Culkin. Os estereótipos foram claramente mantidos, embora com a sutileza necessária para não sobrecarregar de valores emocionais que são adquiridos com uma maturação que só o tempo dá. Sem transformar a obra em si em um chato “manifesto clichê sobre crianças más”.

Elijah Wood e Macaulay Culkin
Coincidências e tristes diferenças

Como eu havia dito no inicio do artigo “O tempo é uma coisa engraçada”. Quando assisti a esse filme pela primeira vez fiquei muito apreensivo sobre a natureza maléfica do personagem de Macaulay Culkin. E como toda criança em tenra idade, me coloquei na situação do personagem de Elijah Wood. Aliás, Elijah tinha a mesma idade que eu, 12 anos, quando atuou em “The Good Son”.

Na época o filme havia sido um fracasso de bilheteria e crítica, justamente porque a sociedade não encarou muito bem a idéia do garotinho doce de “Esqueceram de Mim (1990)” ser o garoto malvado ao lado do bonzinho desconhecido, Elijah Wood. Mas ambos, Macaulay e Elijah, fizeram ótimas atuações. O filme não é uma obra-prima, mas é um bom filme. No entanto, observando-os e levando em considerações o presente, considero “O Anjo Malvado” a teia do destino que teceu o percurso dos jovens atores.


Note como é interessante. Macaulay Culkin havia se tornado da noite para o dia o milionário mais jovem da história do cinema com o recorde de bilheteria “Esqueceram de Mim (1990)”. Nascia então o queridinho da América. Sua imagem de garoto prodígio brilhou ainda mais tendo como melhor amigo o astro pop, em seu ápice, Michael Jackson. Macaulay marcou a infância de muitas crianças sendo o protagonista do clipe “Black or White”. [Veja clicando AQUI] Algo que de certa forma foi lamentável, pois jamais deram o prestígio e o espaço necessário para que a criança Macaulay pudesse desenvolver a sua própria personalidade e por conseqüência a multiplicidade de atributos que concernem um ator.

Carregado de estereótipos Culkin não cresceu muito como ator. Todos os papéis a ele oferecidos carregavam sempre a mesma roupagem do personagem Kevin McCallister. Sendo um tiro no pé, o lamentável “Riquinho (Richie Rich, 1994)”, que mais parece um reflexo medíocre de “Esqueceram de Mim”. Após isso Macaulay desapareceu dos grandes holofotes de Hollywood, retornando sombriamente em 2005, atuando em alguns filmes undergrounds e fazendo pontas em séries de humor. Henry Evans foi o último personagem sério que realmente tivera a liberdade de fazer...

“The Adventures of Huck Finn"
 Elijah Wood iniciou modesto, sem muitas luzes. Sua carreira começou com oito anos em uma pequena ponta no filme “De Volta para o Futuro II (1989)”. Quem não se lembra da cena onde Marty McFly (Michael J. Fox) reconhece o som de uma clássica máquina de fliperama. Logo ao fundo da lanchonete estão dois garotinhos tentando utilizar aquela velha máquina de jogos dos anos 80. Pois bem, Elijah Wood, roupa laranja, teve o seu momento dizendo a seguinte fala “tem que usar as mãos” [veja a cena AQUI]. Foi uma pequena ponta, mas que fez com que ele fosse notado e novos papeis surgissem.

Depois da memorável atuação em “O Anjo malvado” Elijah ganhou o papel principal em “The Adventures of Huck Finn (em português, As Aventuras de Huck Finn, 1993)” baseado na obra de Mark Twain. Neste filme já vemos a “essência de Frodo Baggins”... [risadas].  

Desde então sua carreira só ascendeu a papeis mais elaborados e concisos, principalmente na fase adulta, sendo mundialmente conhecido e reconhecido pela saga “O Senhor dos Anéis”. Confesso que esse sucesso me causou certo receio, mas após o grande estouro na carreira o ator soube administrar o sucesso, soube escolher personagens sólidos. Como é o caso personagem Kevin, um frio serial killer que se alimenta de suas vítimas em “Sin City (2005)”

O novo projeto de Elijah Wood

Porém, seu mais recente sucesso (e meu vício) é a série de humor chamada “Wilfred (2011)”. A série narra de maneira muito cômica à estória de Ryan (Elijah Wood) um suicida em potencial que vê o cachorro de sua vizinha, Wilfred (Jason Gann), como se ele fosse um homem vestindo uma fantasia de cão. Sendo assim, ele dialoga com o bicho, tornando o relacionamento entre os dois totalmente bizarro. Sarcasmo, humor negro e outras maluquices compõem Wilfred que funciona como uma espécie de “Alter-Ego” de Ryan. Recomendo!

Considerações finais...

O mais engraçado é analisar a tênue e estranha coincidência entre ambos os atores. Elijah Wood é filho de pais separados, já Macaulay Culkin viu a separação de seus pais após a intensa briga para ver quem iria “administrar” a fortuna de 17 milhões de dólares do filho. Macaulay após muita luta ganhou judicialmente o direito de administrar a própria fortuna. Afinal, comicamente o título “Esqueceram de Mim” delineou os trajetos de sua queda. Que é uma pena, tanto Elijah, quando Culkin são potencialmente carismáticos. No entanto tiveram jornadas diferentes.

Fatidicamente o filme “O Anjo Malvado” demonstra nas entrelinhas e com muito subjetivamente essa estranha coincidência da vida pessoal de ambos os atores. Provavelmente, bem subjetivamente, o filme seja um sutil prisma de nossa sociedade. Onde muitas famílias dão tudo aos seus filhos e por assim fazerem, deixam a escolha sobre a felicidade ou o fracasso ao destino dos mesmos. Sendo senhores de suas próprias escolhas e concepções. Sem ao menos direcioná-los ou dar o primordial: A verdadeira demonstração de carinho e afeto. Dessa forma muitas crianças crescem sem uma figura paterna ou materna e isso com certeza se refletem em suas relações pessoais e sociais, transformando-os em pessoas insensíveis ou sensíveis demais. Procurando no outro e nunca encontrando a figura patriarcal que jamais se fez presente. O que é triste e desastroso psicológicamente.

Bom filme a todos!

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Torrent + Legenda (OAM.rar)

sábado, 13 de agosto de 2011

Genesis (1998) Dir. Nacho Cerdà


GENESIS
Direção de Nacho Cerdá
Nacho Cerdá é um diretor espanhol conhecido por seus curtas de natureza polêmica. Ele não faz invocação ao banal ou a violência gratuita, tão pouco é reconhecido nos holofotes de hollywood. No entanto, seus trabalhos são únicos, premiados em diversos circuitos internacionais de cinema fantástico. Justamente devido ao modo como narra as suas estórias. Sempre acentuadas por uma perspectiva crua e poética sobre as variações da natureza humana em seu estado mais dantesco e solitário.

NACHO CERDÁ
 Isso fica bem explicito no seu afamado curta “Aftermath” produzido em 1994. Obra máxima que narra o final da carne humana diante de uma mente repleta de desejos pérfidos, lascivos e doentios. Este curta, assim como “Genesis” e “The Awakening” (seu primeiro trabalho) fazem parte do DVD lançado em 2007, intitulado “La Trilogia de La Muerte”.

Meus comentários sobre esse trabalho ficaram para próxima postagem.

O ponto crucial das obras de Nacho Cerdá é despertar a mentalidade humana de sua banalidade usual. Talvez por essa razão, assim como seus demais curtas, “Aftermath” é uma obra polêmica. Justamente por aflorar os nossos sentimentos de repulsa, os quais já haviam domesticado há muito tempo, utilizando todo o subterfúgio dos telejornais, degustando a sua violência trivial entre o almoço e o jantar. De certa forma, nós, a sociedade civilizada, estamos habituados com a violência, ela não nos parece tão vil quando vista sob a perspectiva de nossos lares, nossa íntima segurança. No mesmo decline caminha nossos sentimentos. Estamos cada vez mais frígidos a expressá-los e cada vez mais impassíveis de percebê-lo no outro. Somos auto-suficientes em nosso egoísmo e rígidos em nossa hipocrisia moral. Cerdá causa asco em alguns e reflexão em outros, justamente devido à sinceridade explicita e amoral. Surrealismo poético, fotografia expressiva, ausência de diálogos, suspense e solidão. Essas são algumas pitadas que encontrarás no curta de Nacho Cerdá, assim como no poético GENESIS.


GENESIS - A HISTÓRIA


Genesis narra a história de um artista plástico que perde a sua esposa em um terrível acidente de carro. Deste então carrega consigo essa amarga solidão em seu peito, remoendo essa fria ausência do querer. Em um ímpeto de vazio e desapego a vida, decide esculpir a sua Vênus de Milo. Seus dias são possuídos por um trabalho exaustivo e quase interminável. Sua dedicação consiste em esculpir as feições métricas de sua falecida e amada esposa.


 Eis que surge a narrativa fotográfica do curta, delineando cada ponto, cada curva e silhueta. Demonstrando a sensibilidade da alma do artista que, por um segundo, domina a essência divina, transformando a matéria bruta em beleza visual. Dia após dia a estátua se torna mais polida, mais próxima a idealização do artista. Por fim o trabalho chega aos seus momentos finais. Pequenos retoques são um mero afago aos sentimentos ou apenas uma recordação amarga daquilo que não se pode ter.


Prestes a concluir a sua obra, o artista observa fios de sangue delineando os traços femininos da estátua. São pequenas fissuras que se formaram no corpo de argila e que com o passar das horas parecem mais vivos. Com o passar do tempo as fissuras vão aumentando e revelando uma camada avermelhada de carne e músculos. Em contraponto o artista vai seguindo o processo inverso. Observa com o transcorrer do tempo que o seu corpo é tomado por substâncias escuras, rígidas.


Termino aqui o que é necessário saber. O curta não tem nenhuma linha de diálogo, tudo se revela através interpretações e simbolismo. O diretor soube muito bem narrar através de closes, pequenos planos e oscilação entre sombra e luz todo o aspecto da história. Nenhuma sinopse expressará com exatidão aquilo que os sentidos pode captar com a contemplação. Apenas recomendo que assista mais de uma vez para observar os pequenos detalhes que passam despercebidos na primeira observação. Não é atoa que Genesis foi tão premiado...

Título Original: Genesis
Direção: Nacho Cerdá
Atores: Pep Tosar, Trae Houlihan
Ano: 1998
Origem: Espanha
Duração: 30 min.
Idioma: Espanhol
Formato: AVI
Tamanho: 371 MB
Servidor: Megaupload

OBS: Download indisponível no momento. Assista o curta através do youtube.

Parte Um - Parte Dois - Parte Três

Conheça o blog do diretor Nacho Cerdá  - www.nachocerda.blogspot.com