quinta-feira, 28 de novembro de 2013

NINJAS O horror psicológico de Dennison Ramalho [CURTA-METRAGEM]



Raramente o horror é visto como gênero maior da sétima arte. Esse mérito é dado apenas gêneros considerados mais “refinados” pela crítica especializada. Os críticos ignoram o senso estético do horror e seu estilo inverossímil de narrar à trama. Narrativa com base na degradação humana, demonstrando que o homem animal é meramente fruto do meio em que vive. Eles apóiam seus argumentos em velhos clichês do horror do cinema americano que se reproduz anos após ano e no baixo-orçamento dos filmes nacionais independentes. Na verdade o horror em sua contextualização social e narrativa sobre os limiares obscuros da mente humana nunca foi malstream. O que vendem por aí é o “terror pipocão do susto com gritinho e clichê com faca” é um pacotão americano para entreter adolescentes, facilmente impressionais e que não querem deixar de rezar antes de dormir. O horror moderno não faz apologia a criatura dantesca ou as aparições religiosas de cunho sobrenatural. Esse gênero pouco visto, porém não oculto, narra sobre o limiar da mente humana e a loucura que nos espreita na soleira da porta. “Ninja” é um belo exemplo do horror moderno em questão.

O título do curta-metragem dirigido por Dennison Ramalho nos faz pensar de imediato nos samurais e suas espadas mortais. De fato há morte em seu contexto, porém a obra em questão não tem nada haver com as artes marciais. Na verdade “Ninja” é nome de um grupo de extermínio formato por policiais paulistas que ganharam esse título por seus capuzes na cara no momento da execução. E se você pensou em uma versão curta do Capitão nascimento dizendo “senta o dedo nessa porra”, estão muito enganados. “Ninja” não é a fulga do homem bicho de seus demônios internos como fazia o Capitão Nascimento. Ninja é um acordo com o caos e seus demônios internos. Se a convivência com tais demônios não é passe, torna-os aliados da loucura em que vive.


O curta é inspirado no conto “Um bom Policial” de Marco de Castro [leia o conto – AQUI], não o stand-up comedy sem-graça, mas o policial, vulgo “Marcão” como é conhecido. Marcão vivenciou de perto a realidade da PM Paulista e muito de seus contos são baseados nesses fatos. O curta-metragem narra à história de Jailton, interpretado por Flávio Bauraqui. Jailton é o típico policial brasileiro que dança com a morte para trazer comida à mesa. Porém em uma de suas missões ele acaba executa acidentalmente um garoto. Depois deste fato o policial não consegue viver em paz com a sua consciência. É nesse ponto que seus demônios internos tomam posse de sua sanidade, trazendo sua vítima em aparições dignas do “Estranho Mundo de Mojica Marins”.


Jailton apela para religião, mais precisamente, a exploração evangélica. Os cultos que deveriam ter um efeito catalisador para suas visões infernais se tornam o principal alimento de seus demônios internos, transformando suas alucinações em uma visão surrealista e épica. Uma das cenas mais impactantes e dignas da qualidade da obra é a visão surrealista de Jailton diante de um cristo em decomposição que de suas entranhas lhe oferece uma arma como sinal de redenção. Ao contrário de outros filmes, “Ninja” não traz a solução dos problemas, elevando o personagem a uma iluminação individual. Muito pelo contrário, somente quando Jailton se torna membro do grupo de extermínio é que sua mente aceita as condições do caos.


CURIOSIDADES


 O ator Flávio Bauraqui se tornou popular em algumas novelas e seriados da Globo mas foi através das telas do cinema que seu talento se revelou  singular. Seus filmes mais memoráveis são Madame Satã, Zuzu Angel e Quincas Berro D’Água. Devido ao seu desempenho em Ninjas ele conquistou o prêmio o Kikito de Melhor Ator no Festival de Cinema de Gramado.

Para quem reclama das produções nacionais por terem um baixo-orçamento e efeitos de qualidade cômica, “Ninja” é um chute no estômago. O curta-metragem é o retorno as telas do diretor Dennison Ramalho, pai do profano curta “Amor só de mãe (2002)”. Ramalho  também foi roteirista e assistente de direção do mestre Jose Mogica Marins em seu retorno épico as telas com o longa “Encarnação do Demônio (2008)”. “Ninja” conta com grande elenco e cenas de tensão psicológicas totalmente impactantes. Os extraordinários efeitos visuais e maquiagem ficam aos cuidados do talentoso Kapel Furman que já deixou sua marca em obras como “Encarnação do Demônio (2008)”, “O Cheiro do Ralo (2006)”, “Os Famosos e os Duendes da Morte (2009)”, “Bellini e a Esfinge (2001)” dentre outros. 

Apertem o play e boa viagem!

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